O prefeito Marco Alba fez um apelo à responsabilidade individual, uma denúncia sobre (expressão minha) um ‘jeitinho gravataiense’ e alertou sobre o risco de lockdown, em live ao meio dia desta quarta, na qual apresentou a adaptação de Gravataí à classificação como ‘bandeira laranja’ no distanciamento controlado do Governo do RS.
Para facilitar para o leitor, divido a apresentação em ‘CPF’ e ‘CPNJ’. Começo pelo que reputo mais importante: as vidas. Se quiser assistir os 43 minutos antes da análise, clique aqui.
– O vírus existe. O mundo conhece a COVID-19. Gravataí já tem uma morte – disse o prefeito, pragmático, mesmo que em tons de cinza ‘colorindo’ o óbvio, que infelizmente precisa ser dito em tempos de negação, obscurantismo e fake news disseminadas e/ou consumidas por desinformados e/ou informados do mal.
Sem o cumprimento das regras de higienização, distanciamento interpessoal, ocupação de áreas comerciais e proteção individual, o colapso de sistema de saúde chegará com o inverno e Gravataí pode ganhar uma ‘bandeira preta’ do governo estadual, ou decretar um lockdown.
Só nas últimas 24h houve quatro novos casos da COVID-19, fazendo com que maio, em apenas 13 dias, responda por 3 a cada 10 das infecções em uma cidade que testou até agora somente 0,1% de seus 281 mil habitantes.
Como tratei em Gravataí é 13º do mundo em letalidade da COVID 19; o engano dos números, o dado parcial que melhor ilustra a pandemia é o de hospitalizados pela SRAG, a síndrome respiratória aguda grave – a ‘cara’ da COVID-19. Em Gravataí, entre março e abril de 2019 foram 3 casos; no mesmo período em 2020, 78.
É uma análise parcial porque não é possível analisar o número de mortes pela SRAG, já que ainda não há dados oficiais. Conforme a SMS, os cartórios não estão alimentando o sistema nacional, devido ao fechamento na pandemia. O exemplo maior é que o único óbito por COVID-19 em Gravataí sequer está registrado no Portal Transparência de Registro Civil.
Para pesar o tom da cor laranja da bandeira de Gravataí, o prefeito alertou para dados das últimas duas semanas que mostram que, com a mudança no clima, com chuva e frio, cresceu a procura pelas portas de entrada da saúde devido a problemas respiratórios.
– Uma convergência das diferentes correntes de pensamento é que a maior dificuldade para enfrentar o vírus é a falta de estrutura, tanto na saúde pública, quanto privada. Se a propagação for veloz e letal, para os grupos de risco, teremos dificuldade de atender.
A ‘ideologia dos números’ mostra que nem o reforço no número de leitos ‘pós-pandemia’ tranquiliza. De 3 de março a 3 de maio, o Rio Grande do Sul passou de 1001 UTIs para 1537. O Ministério da Saúde anuncia outras 571 até 3 de junho.
Gravataí, incluída na promessa dos quinhentos novos leitos, aguarda 20 respiradores para montar 10 UTIs no ‘hospital de campanha’ e outras 10 no hospital Dom João Becker. Hoje, para a Região Porto Alegre, a que pertence Gravataí no distanciamento controlado do Governo do RS, tem apenas 266 unidades de tratamento intensivo com capacidade para manter pacientes respirando enquanto fazem o tratamento para a doença que tem um tempo médio de internação entre 14 e 21 dias.
– Tenho medo de não recebermos os respiradores – admitiu o prefeito, explicando que o Ministério da Saúde está priorizando, e também com atrasos, o envio de respiradores para o Rio de Janeiro e São Paulos, epicentros da COVID-19 no Brasil, e para estados do Norte e Nordeste.
– Apenas o Ministério da Saúde está habilitado a liberar respiradores – acrescentou o secretário da Saúde Jean Torman, que, devido à espera, que já chega a 15 dias, projetou "para o fim do mês" a abertura do ‘hospital de campanha’, inicialmente prevista esta semana, como o Seguinte: mostrou na vídeo-reportagem Entramos no novo hospital de campanha de Gravataí; assista.
Marco Alba mais uma vez pediu atenção ao básico: uso da máscara, distância interpessoal de dois metros, higiene pessoal e isolamento de idosos e portadores de comorbidades, como hipertensão, doenças cardíacas, diabetes, obesidade e outras doenças que fazem de Gravataí um potencial ‘covidário’, como já mostrei em Os milhares de Gravataí que estão no grupo de risco da COVID 19; teste se você escapa.
– Quando é preciso coerção para que cada um se cuide e exerça o amor ao próximo, perdemos como sociedade. Quando perdermos pessoas queridas será tarde demais – apelou, dizendo que, enquanto “nos palácios” governantes fazem política, ou criam regras acadêmicas para abrir ou fechar atividades, os prefeitos estão na planície junto às comunidades.
Na parte ‘CNPJs’ da live, o prefeito anunciou a publicação do Decreto Municipal nº 17934, no Diário Oficial, que você lê clicando aqui. É a adaptação de Gravataí às regras dos decretos estaduais do distanciamento controlado (55240 e 55241), que já tratei logo após a apresentação do governador Eduardo Leite no sábado, em Como abrir seu comércio segunda em Gravataí e Cachoeirinha? Siga aqui as regras.
Um hotsite criado pelo Governo do RS já está no ar. É de fácil navegação, apesar de por vezes lenta pelo número de acessos simultâneos, onde clicando aqui é possível pesquisar as normas por bandeira, região, cidade e atividade econômica. Você também pode baixar as regras para cada bandeira em Protocolos específicos para cada setor econômico: clique aqui e acesse e conferir as regras conforme a 'bandeira laranja'.
Os motivos da classificação na ‘bandeira laranja’ já tratei em artigos como Mapa dos leitos mostra maior ocupação e gravidade da COVID 19 na região Gravataí-Cachoeirinha, Gravataí está pronta para o comércio reabrir?; expectativa e realidade e Sem distanciamento social Gravataí poderia ter mais de 1,3 mil mortes; às ’reginas duartes’.
Patrícia da Silva, coordenadora da Vigilância Municipal em Saúde (VIEMSA), também participou da live e citou alguns exemplos de alterações locais, principalmente pela relação estabelecida entre tetos de ocupação por funcionários e clientes.
Shoppings só poderão operar com redução de 50% no número de funcionários e pública, e com medição de temperatura de clientes que acesse o local.
Igrejas, a 25%. Indústrias variam entre 100% (essenciais, como alimentos e farmácia) e 50% (borracha, o que atinge as gigantes Pirelli e Prometeon).
Academias, cuja reabertura critiquei ontem em O exercício do erro de Marco Alba, só poderão funcionar com 25% dos trabalhadores e “atendimento individualizado por ambiente”.
Casas noturnas, pubs, teatros, cinemas, quadras esportivas e campos de futebol seguem proibidos de abrir.
As aulas não retornam em maio em escolas públicas ou privadas.
– Esta semana Gravataí é bandeira laranja, ou risco médio. A cada sábado o Governo do RS mantém, ou altera a classificação. Há medidas obrigatórias para preta, vermelha, laranja, amarela ou verde, como máscara, distancia interpessoal e higienização; e específicas conforme a bandeira, que é preciso sempre consultar nos decretos – explicou a coordenadora.
Seguirá o mesmo link no site da Prefeitura para o Termo de Responsabilidade Sanitária, que precisa ser firmado para abertura de qualquer negócio, só que agora com as adequações ao distanciamento controlado gaúcho. Você acessa clicando aqui.
É no termo que se verifica o ‘jeitinho gravataiense’ de alguns, o que já havia alertado sobre o risco em Gravataí está pronta para o comércio reabrir?; expectativa e realidade. Fato é que as metragens informadas por empreendedores locais não condizem com as plantas registradas na Prefeitura.
– Foi declarado 1,5 milhão de áreas livres e administrativas, o que permitiria o acesso de 500 mil pessoas. Não é verdade – advertiu o prefeito, pedindo que os critérios sejam respeitados.
– Não é a metragem total do terreno. Não é possível mais da metade dos negócios de Gravataí ter mais de 500 metros quadrados.
O ‘erro’, ou (expressão minha) ‘jeitinho’, fará com que a Prefeitura fiscalize por amostragem.
– Temos as metragens registradas. Vamos fazer visitas aleatórias em pontos da cidade e comparar – informou o prefeito.
O lockdown, que é o fechamento de tudo que não for serviço essencial, e a permissão de circulação apenas para compra de alimentos e emergências, não é uma coisa distante, caso o sistema de saúde sobrecarregue.
– Não tenho medo de afirmar que, se cada um não fizer sua parte, passaremos momentos difíceis. A disputa é para ficarmos vivos, não por ideologias ou por uma eleição – concluiu Marco Alba.
Como alertei em artigos como Ainda sem efeito da reabertura, contágio já cresce em Gravataí; mulheres são alvo, o Rio Grande do Sul, Gravataí incluída, retomaram atividades na metade das 10 semanas recomendadas mundialmente, em um momento em que o contágio crescer e o inverno está chegando.
Enquanto o Governo do RS não divulga dados de celulares obtidos em convênio com operadoras de telefonias, faço um exercício usando dados de aplicativo desenvolvido pela startup brasileira In Loco: em 24 de abril a taxa de distanciamento social brasileira era de 59%; em 2 de maio, data da última atualização, já tinha caído para 43,1%. Em 22 de março, 69,6%, ou quase 7 a cada 10 pessoas estavam em casa. Aplicando o percentual sobre os 281 mil habitantes, entre março e maio Gravataí ganhou 75 mil pessoas nas ruas.
A ‘tempestade perfeita’ se aproxima ao cruzarmos as projeções com o ‘Índice R’, da Imperial College, que mostra que a taxa de contágio brasileiro é hoje a maior do mundo: 1 infecta 3, enquanto é considerado “preocupante” 1 para 2, da Suécia, e em queda o 1 para 1 da Alemanha (já quase 1,5 após a reabertura econômica no país europeu). Em Gravataí não há indícios de que será diferente, já que a média de casos, que era de um a cada dois dias já chega a mais de 1 por 24h.
Ao fim, não é alarmismo incluir lockdown no vocabulário aldeano se a cidade continuar experimentando dias de movimento normal. Somos 281 mil potenciais infectados que podem concorrer na loteria dos 266 leitos para 3 milhões de pessoas que perfazem a Região Porto Alegre.
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