DAS URNAS #10 | Gravataí ainda pode ter representante na assembleia legislativa. Uma torce, outro seca. Siga mais uma análise do que saiu, ou sairá das urnas, e as inevitáveis consequências para 2020
Gravataí pode sair da eleição deste domingo com a perspectiva de ter dois deputados estaduais a partir de fevereiro de 2019, caso José Ivo Sartori seja reeleito. Agora preste atenção: uma quer, outro não.
É que os dois candidatos mais votados em Gravataí, Dimas Costa e Patrícia Alba, estão entre os primeiros suplentes da coligação do governador. Patrícia é do MDB de Sartori, Dimas do PSD do vice José Cairoli.
A ascensão dos dois à assembléia legislativa seria natural, com a chamada de eleitos para compor o governo. Primeira-dama da principal prefeitura do partido e com 40 mil votos no Rio Grande do Sul, Patrícia também está em todas as listas para ser secretaria de estado do gringo.
Mas quem acompanha a trajetória dos dois mais de perto já deve ter entendido o “uma quer, outro não”, da abertura do texto.
Dimas é oposição.
E, caso se torne deputado, seria obrigado a respeitar decisões do partido, sob o risco de perder o mandato por infidelidade partidária.
A mais de um eleitor que comentou que votaria em Sartori para ajudá-lo a assumir o mandato, Dimas recomendou voto em Eduardo Leite (PSDB).
É que, já se apresentando como candidato a prefeito em 2020, o que é sua obsessão, Dimas, pelo menos num recorte apenas da eleição de 2018, saiu das urnas como o principal adversário do MDB do prefeito Marco Alba na disputa pela prefeitura.
Obedecer a um governo do MDB, e votar ao lado de Patrícia, desmontaria sua estratégia do ‘contra tudo que está aí’ – parte de seu sucesso nas urnas.
Além da oposição que faz a Marco Alba desde sua primeira eleição a vereador em 2013, foi contra o golpeachment que derrubou Dilma Rousseff (PT), colocando-se na oposição a Michel Temer mesmo que seu presidente nacional, Gilberto Kassab tenha apagado a luz como ministro do governo da petista e acendido no dia seguinte para o presidente eleito para ser vice, e, ignorando seu PSD, gravou vídeo na tribuna da câmara anunciando que não votaria em Sartori. Abriu mão do dinheiro do fundo partidário na campanha, inclusive.
O candidato a deputado mais votado de Gravataí preserva tanto o ‘contra tudo que está aí’, que, se a esposa, a conselheira tutelar Anna Beatriz, curte postagens do #EleNão, Dimas, petista por uma década, nem em cima do muro está na disputa pela presidência da república entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Está atrás do muro, evitando se posicionar.
Já Patrícia aderiu com gosto ao SartoNaro e confessou ter votado no ‘mito’ já no primeiro turno, reforçando o discurso antipetista que o MDB local deve manter e, em 2020, possivelmente com Jones Martins como candidato, direcionar contra Dimas e o candidato apoiado por Daniel Bordignon (PDT).
Pelo menos hoje, numa Gravataí onde seis em cada 10 votos foram para Bolsonaro, ‘petista’ é xingamento.
Ao fim, enquanto Patrícia e Marco Alba estão na rua pedindo votos para Sartori, Dimas está como o Grêmio naquele último jogo do Brasileirão de 2009 contra o Flamengo, onde uma vitória daria o título para o Inter. Está secando seu ‘time’ e, por tabela, à própria chance de assumir como deputado.
Curioso, mas é assim: os políticos avançam até à noite, quando os eleitores estão dormindo.
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