RAFAEL MARTINELLI

Se Trump cumprir o que prometeu, será ruim para a GM

O novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos pode ter efeitos na General Motors, que tem em Gravataí uma de suas fábricas mais produtivas do mundo.

Primeiro, na produção de carros elétricos – sempre uma expectativa para o futuro da planta gravataiense.

O discurso de posse confirmou as promessas de campanha de reverter iniciativas de energia limpa.

– Com minhas ações de hoje, encerraremos o Green New Deal e revogaremos o mandato do veículo elétrico, salvando nossa indústria automobilística e mantendo minha fiel promessa aos meus grandes trabalhadores automobilísticos americanos – disse o novo presidente estadunidense.

O governo Biden impulsionou a produção de veículos elétricos com um plano de US$ 1,7 bilhão.

Mas há possibilidade de algo pior: um tarifaço.

Já reportei os riscos antes da eleição, em Eleição de Trump pode ter “efeitos dramáticos” sobre a GM, diz CEO mundial.

A CEO da GM, Mary Barra, disse em outubro que a montadora estava acompanhando de perto as políticas propostas dos candidatos presidenciais porque o resultado poderia ter um impacto dramático em todas as montadoras quando se trata de tarifas – os custos impostos sobre itens exportados de outros países.

Minha fonte foi GM ‘prestando muita atenção’ às políticas dos candidatos presidenciais – especialmente tarifas, reportagem de Jamie L. LaReau, publicada pelo Detroit Free Press, jornal da terra da montadora.

“Com a maioria das peças automotivas vindo da China, as cadeias de fornecimento automotivo serão afetadas”, alerta Charles Klein, chefe de OEC Group Detroit, importante facilitador de importação de bens.

Conforme a matéria, em 23 de outubro, poucas horas depois de a GM informar que obteve US$ 4,1 bilhões em lucro ajustado antes dos impostos no terceiro trimestre de 2024, um aumento de 15,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, analistas de Wall Street perguntaram à Barra quanta flexibilidade a GM tem no futuro para mudar a produção internamente para compensar tarifas possivelmente mais altas sobre produtos importados – ou se a GM poderia fazer mais reduções de custos ou aumentos de preços para neutralizar o aumento dos custos.

A GM vende o Buick Envision nos Estados Unidos, mas ele é montado na China. A GM constrói o Chevrolet Blazer, Equinox, Silverado, GMC Sierra e GMC Terrain no México, bem como o Equinox EV totalmente elétrico e o Blazer EV.

A pergunta do analista tinha origem no plano tarifário que o então candidato republicano elaborou como pedra angular da sua campanha.

Trump propôs a imposição de uma tarifa de 20% sobre todos os produtos de todos os países. Ele quer impor uma taxa elevada de 60% ou mais sobre as importações chinesas e mexicanas. Na campanha, o desde ontem presidente disse que o seu plano tarifário é uma estratégia de longo prazo para trazer mais produção para o continente, criar mais empregos nacionais e gerar receitas de outros países.

Wall Street teme que a segunda presidência de Trump traga “mais volatilidade e incerteza” à indústria automobilística, disse à reportagem David Whiston, analista da Morningstar Autos.

“Você nunca tem certeza se ele seguirá em frente, parcialmente ou não”, disse Whiston, sobre como as tarifas mais altas propostas por Trump podem impactar as montadoras. “Um exemplo importante é a imposição de tarifas sobre todos os veículos fabricados no México exportados para os EUA, já que todas as empresas Detroit Three exportam de lá.”

Trump na Casa Branca é uma má notícia para a GM, disse à reportagem Dan Ives, diretor-gerente da Wedbush Securities, pela possibilidade da administração Trump remover o crédito fiscal de US$ 7.500 para veículos elétricos oferecido aos consumidores, algo com que a GM e outras montadoras contam para estimular a adoção de veículos elétricos.

“Além disso, Elon Musk terá um papel importante na administração Trump”, analisa.

Um veículo movido a gasolina contém peças de todo o mundo, pelo que um aumento ou extensão das tarifas afetará o custo global de fabricação de veículos, o que poderá recair sobre o consumidor, disse Klein.

Mary Barra, CEO da GM


À reportagem, a CEO da GM, Mary Barra, indicou à época que a GM estaria preparada para fazer o que for necessário, se necessário.

“Vamos trabalhar de forma construtiva, por isso é muito difícil especular, sem saber exatamente o que vai acontecer”, disse. “Mas seremos disciplinados e resilientes e faremos ajustes na medida que pudermos para continuar a impulsionar o crescimento e a lucratividade.”

Ao fim, resta aguardar o quanto é real e o quanto é virtual no discurso do novo presidente estadunidense.

Não sem lembrar Hannah Arendt, em Origens do Totalitarismo: “Empresários tornaram-se políticos e foram aclamados como estadistas, enquanto os estadistas só eram levados a sério se falassem a linguagem de empresários bem-sucedidos”.


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