Inegável que hoje, gostar de Cazuza, é coisa de comunista. Os 80 tiros de metralhas das milícias digitais indicam isso, no Grande Tribunal das Redes Sociais.
E não é que – nenhuma novidade nisso – Miki e Jack gostam tanto do burguês que confessava que a burguesia fede que compartilham suas canções nas redes sociais?
Ok. Chega de ironia. As postagens feitas nesta segunda pelo prefeito Miki Breier e pela vereadora Jacqueline Ritter, em seus perfis de Facebook, ilustram aquela do Millôr de que “quando duas pessoas se divorciam devem jurar que vão viver separadas até a morte”.
Aos que não estão muito por dentro de Little Falls, Miki e Jack são do PSB, o partido que em Cachoeirinha mudou o sobrenome, que antes era ‘PT’, mas governa desde 2000.
Vamos aos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos. Cronologicamente, para não parecer teoria da conspiração, fofoca ou pilha.
Segunda, postei no Seguinte: o artigo O BOM de Cachoeirinha; quem está contra Miki, informando sobre a criação do ‘Bloco de Oposição Municipal’. Na foto, sorridente e de bem com a vida como sempre, a surpresa, e o grande símbolo, era a vereadora Jack.
Seguindo o almanaque, terça, 9h, Miki posta em seu perfil no Facebook: Eu vou sobrevivendo sem um arranhão / Da caridade de quem me detesta.
É ‘O Tempo Não Para’, parceria de Cazuza com Arnaldo Brandão, do Henói-Hanói.
Às 15h, Jack posta sequência imediata da letra: A tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos… o tempo não para.
E aí?
É o óbvio ululante.
Que Miki e Jack não se falam desde antes da eleição do prefeito, não é novidade. Mas quero fazer duas reflexões.
Um: o uso do Cazuza – que, porque sei, é admirado tanto por Miki, quanto por Jack – diz muito sobre 2020.
Miki praticamente lança Jack como a candidata a prefeita pelo ‘BOM’, o ‘bloco de oposição municipal’. E não lança por descuido, porque Miki é inteligentíssimo. O professor apenas antecipa: Antônio Teixeira e Ana Fogaça não são rodapés, e sim páginas da história política de Cachoeirinha. Mas para essa geração que está agora dentro do Stadtbus com a cabeça abaixada olhando a tela do celular, ou correndo a timeline enquanto o carro espera abrir a sinaleira do Shopping do Vale, são políticos old school, não tem mais como representar o ‘contra tudo que está aí’ – e o ‘contra tudo que está aí’ é hoje o que tem de mais fashion na política.
Jack, sim. Mesmo que uma investigação mais profunda mostre que a rebelde também tem suas estações de domesticação, nas aparências ela é, e foi, contra os governos municipal, estadual e federal.
Ah, uma coisa é importante e que tira qualquer pixo de hipocrisia em Jack: ela não tem cargos na Prefeitura.
Bom, não sei por qual partido, mas Miki já anteviu sua adversária nas urnas.
Jack – com Antônio Teixeira com vice – é o nome que pode unir PT, Rede, PSol e o partido para o qual ela for; e ajudar a garantir pelo menos a eleição de uma bancada de oposição, com David Almansa (PT), Rafael Velho (Rede), Ester Ramos (PSol)…
Conheço Jack e ela é corajosa suficiente para trocar a reeleição garantida a vereadora pela aventura de concorrer a prefeita.
Mas vou para o ponto 2, e aí falo diretamente para Jack: “tua piscina tá cheia de ratos”…, Hum, no senso comum, isso cria suspeitas. Eu – vegano e ativista da causa animal – adoro camundongos. Mas e os outros 9 em cada 10 que tem asco ou medo, como interpretam seu post?
O item 7 das definições de ‘rato’ pelo Aurélio diz assim: Ratoneiro, larápio.
E a definição primeira do mesmo dicionário para larápio é “Ladrão; gatuno”.
Se há larápios e gatunos no governo, é seu dever de ofício, como vereadora, cujo papel principal é fiscalizar, apontar onde é preciso fazer a dedetização, Jack!
Ou a amiga estaria prevaricando, que significa crime cometido por funcionário público – vereador, no caso – quando, “indevidamente, retarda ou deixa de praticar ato de ofício, ou pratica-o contra disposição legal expressa, visando satisfazer interesse pessoal”.
Para permitir uma saída honrosa aos dois brilhantes políticos, intelectuais acima de Carluxos da vida, me antecipo e peço desculpas, me chamem (de ladrão não!) de bicha/ maconheiro: talvez tenha interpretado mal os posts de Miki e Jack.
Imperioso lembrar que, como eles, nasci em uma das paradas aos nove anos de idade.