Fazendo um #TBT de série de artigos que publiquei ano passado, reconheço errei no valor que baixou a gasolina, mas acertei nas previsões do quanto Gravataí, Cachoeirinha e Viamão perderiam com o que chamei ‘bolsa-carro’, uma das medidas eleitoreiras de Jair Bolsonaro ao, às vésperas da campanha presidencial de 2022, limitar a cobrança de ICMS de combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo em 17%; antes era 25%.
Errei ao usar previsões de especialistas que projetavam que a gasolina teria uma redução na bomba de cerca de R$ 1. Foi pouco mais de 2.
Acertei ao reportar um assalto de mais de R$ 40 milhões nos cofres das três prefeituras. No geral, a estimativa de perdas nos estados e prefeituras gaúchas chega a R$ 4 bilhões/ano.
Só em Gravataí são pelo menos R$ 20 milhões, como confirma ao Seguinte: o secretário da Fazenda, Davi Severgnini.
Fato é que, de quanto assumiu, em 1º de janeiro de 2019, até às vésperas da eleição de 2022, o então presidente da República permitiu a política de preços da Petrobrás, não interviu nos essenciais diesel e gás. Só a quatro meses da eleição optou pelo imediatismo, quebrou estados e municípios e bagunçou as contas públicas para baixar a gasolina que move veículos particulares.
Como dinheiro não havia, o ministro da Economia Paulo Guedes, um responsável fiscal de multiverso, optou por torrar a privatização da Eletrobrás em seis meses para bancar o plano eleitoral de seu chefe populista, o qual calculava um custo “entre 25 e 50 bilhões”.
“Mas, e no ano que vem, seja num governo do próprio Bolsonaro, Lula ou do Cabo Daciolo, quem paga a conta?”, questionei.
“O golpe está aí, cai quem quer”, alertei, sobre a promessa de compensação, que agora depende do governo Lula.
Em nota à época, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e a Secretaria da Fazenda do Estado alertaram que estados e municípios teriam serviços prejudicados em áreas essenciais como saúde e educação, principalmente pela falta de transição na redução dos impostos, já que o Supremo Tribunal Federal (STF) tinha fixado 2024 como último ano para alíquotas superiores a 17% em energia e comunicação nos estados.
– Defende-se, assim, que, ao invés dessa medida, se aplique um aumento dos impostos nas empresas petrolíferas que são hoje em dia as que têm obtido os maiores lucros e podem arcar com estes valores em prol de nossa sociedade – assinou o presidente da CNM, o gaúcho Paulo Ziulkoski.
Ao fim, a conta chegou. Gravataí calcula perdas de R$ 20 milhões, Cachoeirinha 10 milhões e Viamão 9 milhões, em troca de 2 reais na bomba.
Concluí assim o artigo, em 8 de junho do ano passado: “o secretário da Fazenda de Gravataí, Davi Severgnini, que é fã de Guedes, já deve estar fazendo as contas. Aposto que de forma responsável, assim como fechou todos os orçamentos realistas dos últimos anos. Nunca com uma ‘pequena’ diferença como a calculada pelo ministro, ‘entre 25 e 50 bilhões’”.
Queria ter errado. Mas é a ‘ideologia dos números’, que atropela os lados e o centro da ferradura ideológica. Ou como sarcasticamente receitava o Millôr: “toda ideologia precisa ser baseada em um orçamento”.