A poeta vive aqui, derramando-se no papel e ecoando sua voz nos saraus… A poesia é uma maneira de existir no mundo, é parte da minha essência. Quando escrevo versos e também quando os partilho com o mundo, a vida pulsa. Há fases de silêncio, em que a inspiração parece que vai embora, mas ela sempre volta, ainda mais potente. E cada vez mais a poesia é meu brado carmesim, meu grito de mulher que não permite ser calada pela sociedade machista e misógina. Minha arma, e minha força de resistência, é o verso.
A performer também existe aqui, manifestando-se quando pode. Dando vida à poesia, criando enredos com poemas, ocupando o palco, trazendo brilho e reflexão. Ela vai além da palavra, pensando em figurino, maquiagem, som e imagem. Faz do poema jogo cênico, e como se diverte jogando!
A atriz ainda é uma descoberta… Mas cresce um pouco a cada dia, e já foi até às lágrimas ao fazer uma mãe sofrendo em cena. E essa atriz vem pedindo espaço, querendo mais dessa energia única que só entregar-se a uma personagem proporciona. Tudo a seu tempo, sabemos. Mas é uma necessidade pulsante, que não poderá ser adiada por longo período.
A palhaça está guardada aqui dentro, cheia de vontade de voltar à cena. Seja levando alegria a um hospital, ou em outras aventuras. Como é forte essa palhacinha! Quando o mundo parecia desmoronar, ela coloria o rosto, colocava um sorriso que nem ela sabe como conseguia, e fazia melhor o dia de outras pessoas. Ah, como é lindo deixar um pouco mais alegre e colorida essa vida que não é fácil!
A contadora de histórias também tem um cantinho especial dentro de mim. As histórias preferidas seguem na ponta da língua, e a pasta de livros bem recheada, esperando o momento da “tia Je” atuar de novo. Mas contar e encantar os pequenos é um dom que não pode ser deixado de lado, para sorte dos sobrinhos (de sangue e de coração). Então, onde houver uma criança interessada em escutar, estarei contando.
A roteirista está em construção, estudando, acreditando no caminho que por muito tempo parecia um sonho distante. Mas agora já consegue vislumbrar seu nome nas telas algum dia, assinando roteiros de filmes ou séries. Contar histórias é o que eu mais amo na vida, de diversas formas.
A escritora segue firme divulgando seu “filhote” e pensando em como publicar os próximos. Ser autora independente é uma aventura diária. Escrever é só a ponta do iceberg: a gente revisa, faz material de divulgação, alimenta as redes sociais, manda release para a imprensa, atende os interessados, faz as vendas e ainda entrega ou leva nos Correios. Se tem alguém que aproveita toda oportunidade de mostrar seu trabalho, é autor independente. Qualquer coisa já está tirando um exemplar da bolsa e perguntando “Já conhece meu livro?”
A artesã vive em mim, amando cada dia mais suas artes. O trabalho de juntar pedaços de feltro começou como forma de terapia e de fazer presentes com minhas próprias mãos. Foi uma caminhada até chegar nos bonecos que nascem hoje. É tão fantástico criar, a partir do mesmo molde, personagens de diferentes cores, etnias, vestimentas, gênero. Parece até uma metáfora de que todos temos a mesma essência. O que muda é o exterior, a aparência. Artesanato é arte, sim. Demorei para entender, mas hoje tenho muito orgulho da arte que faço com minhas mãos, manejando agulhas, tesouras e cola.
A arte-educadora ainda é tímida, mas se manifesta quando a poeta encara uma turma de Ensino Médio, com uma didática que ela nem se dá conta que tem. E sonha com os projetos que deseja realizar, levando arte a crianças e jovens, mostrando que a poesia é para todos, basta querer escrever. E que qualquer um pode se auto-publicar em forma de fanzine. E quem sabe projetos com o audiovisual também? A gente nem imagina que portas a vida pode abrir. Que bom que a pandemia me proporcionou agregar mais essa faceta nas habilidades artísticas.
E a jornalista aparece para escrever sobre todas elas. Porque ela ainda habita por aqui, colaborando com todas as artistas que me compõe. Ela não quer mais pisar numa redação. Mas está sempre disposta a usar seu conhecimento e sua bagagem em função da arte. É assim que o caminho até aqui faz sentido. Até o que doeu e machucou… também é parte da multi-artista que me reconheço. Sou todas elas, juntas em uma mulher que se descobre cada dia mais inspirada a fazer arte.