Viagens de vereadores sem prestação de contas adequadas, no que batizei ‘CâmaraTur’ de Gravataí, deixaram uma conta de R$ 150 mil para a família do falecido Nadir Rocha pagar com seu espólio do 'político do povão'. O ex-vereador tem um processo de execução judicial que atrapalha seu inventário.
Dos Grandes Lances dos Piores Momentos é que a devolução de dinheiro das viagens é referente a 2011, quando o parlamentar presidiu a Câmara, não de 2016, quando o escândalo das viagens chegou ao Fantástico, pelo gasto de R$ 1 milhão ser maior que o legislativo da megalópole São Paulo, como tratei em artigos como Câmara gastou R$ 1 milhão com viagens e Bancada das diárias perdeu mais de 8 mil votos.
– É um absurdo. A conta ficou para a família – lamenta o filho, Leandro.
O Seguinte: teve acesso ao processo e ao relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e lista entre beneficiados com passagens e diárias cuja comprovação foi considerada irregular os ex-vereadores Carlos Medeiros, Márcio Souza, Ricardo Canabarro, Tânia Ferreira e Vail Correa, os já falecidos Acimar da Silva, Bernardo Nunes, Luis Carlos ‘Cau’ Dias e Roberto Andrade, além da servidora Maria Helena Petry Lima.
Nadir, que também aparece, mas com um gasto de R$ 735,85 em uma ordem de devolução de, à época, R$ 47.252,69, também faleceu vítima de um infarto em maio, como reportei em artigos como Adeus ao ‘político do povão’: Nadir Rocha recebe as últimas homenagens e Morre vereador mais antigo de Gravataí: O que posso contar sobre Nadir Rocha.
O relatório completo, que você acessa clicando aqui, apontava irregularidades de meio milhão, incluindo diferenças salariais para servidores, depois anuladas. Restaram os quase R$ 50 mil, que corrigidos chegaram aos R$ 150.448,16, já inscritos como dívida ativa na Secretaria da Fazenda.
A advogada da sucessão, que pediu para não ser identificada, disse que a família ainda não decidiu o que vai fazer.
Ao fim, é o risco que correm os políticos que assumem o comando dos poderes executivo ou legislativo. Nadir, por ser o presidente à época, responde solidariamente por uma conta que, diretamente, colaborou com zero após a vírgula.
A dívida será executada não sobre bens dos familiares, mas sobre o patrimônio que Nadir deixou, caso não seja movida uma ação de cobrança aos envolvidos – dos 9 ex-vereadores, 4 já falecidos – que pode se arrastar por anos.
Fato é que a falta de prestação de contas, que poderia ser feita com simples comprovantes aéreos e notas de hotéis ou refeições, não o foi pelo descontrole que vivia a gestão interna da Câmara, e levou ao afastamento, pelo próprio Nadir, de dois servidores do quadro suspeitos de irregularidades de quase meio milhão de reais, além de ter sido a época do impeachment, que tratei ainda hoje em 10 anos do golpeachment: a politicagem e o dinheiro me cassaram, diz Rita, a ’Dilma de Gravataí’.
Bonito, porém improvável, seria os políticos que aproveitaram do ‘CâmaraTur’, ou suas famílias, no caso dos falecidos, dividirem essa conta com os herdeiros do Nadir.
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