luto

120 em 40, uma intensa história de vida

Denise era pedagoga, artista visual, guia de turismo, escritora e contadora de história. Seu sepultamento está ocorrendo agora no Cemitério Municipal do Rincão da Madalena.

O jornalista e ambientalista Claudio Wurlitzer escreveu, para o Seguinte:, uma homenagem à artista visual e pedagoga Denise Pacheco Lopes, criadora da personagem Medonha, cujo falecimento é lamentado principalmente pela comunidade artística e literária de Gravataí.

 

O que escrever sobre a vida de uma pessoa que deixa nosso convívio de forma prematura? Nem a boa convivência com o mundo das letras ajuda nessa hora. Poderia começar compartilhando manifestações de pesar colocadas no facebook para confortar familiares. Numa dessas postagens, alguém relacionou o início da manhã, cinzenta na cidade, não pela nebulosidade, mas pela falta das cores sempre bem empregadas pela artista visual Denise Pacheco Lopes, a Medonha, em suas publicações ou ilustração de trabalhos pessoais e de autores amigos. Poderia escrever sobre a Feira do Livro, que não será mais a mesma, sem o espaço bem ocupado por ela e o marido, também artista visual Waldemar Max, com livros, criatividade e muita alegria. O que escrever sobre a vida da amiga, que faleceu aos 40 anos?

Tentando “inspiração”, ainda com foco em manifestações na rede social, questionei isso ao lado do caixão onde estava a amiga Denise. Comentei com o Max, que a Denise precisaria viver uns 120 anos para realizar tudo que idealizava, pois a inquietude se fazia presente em todas as ações da artista.

Muito comunicativa, Denise abria um leque de alternativas para um próximo projeto. Ansiedade, talvez. Lógico que vivia o presente, mas a mente apontava planos lá adiante. A forma lúdica de jogar suas criações para o público leitor, de diferentes idades, era a marca dessa gravataiense que agora vai colorir outras páginas, em um outro plano.

Revendo o livro número 2, lançado em 2014, Denise escancara energia e criatividade na publicação. Naquela obra, Medonha teve a companhia de Medonho e Fuca percorrendo pontos turísticos da cidade, como o Morro Agudo, o chafariz da praça, o Seminário São José, e outros. Sábia, soube criticar o desaparecimento – até hoje não explicado – das pombas que faziam parte do chafariz na praça em frente à Prefeitura. Foi uma forma singela de homenagear o amigo-artista João Alberto Lessa, criador das esculturas das pombas. No mesmo livro, um destaque ao morro agudo e às atrações da Carreteada de Gravataí, fazendo referência à tradição resgatada pelo casal Ramon Rodriguez e Eleonora. Na apresentação do livro agradeceu a Deus, lembrando que sem ele nada somos. Citou a mãe Loreta, o pai Hélio e o campanheiro Max, por toda força e apoio que sempre lhe deram. E concluiu: “principalmente neste ano de renascimento”. Sem detalhes, indicou momentos de uma fragilidade na saúde.  Max recorda que, recentemente, na comemoração do primeiro aninho do filho Iberê, um novo sinal estaria acusando risco à integridade física de nossa Medonha.

Denise era pedagoga, artista visual, guia de turismo, escritora e contadora de história, com especialização em metodologia do ensino de artes. Muita bagagem, mas sua passagem por nós teve muito mais de humildade diante dos reconhecimentos e elogios.  Em 2013, o livro “Conhecendo Gravataí com a Medonha” recebeu o prêmio “Promotor da Paz”, instituído pela Câmara de Vereadores.

Denise sempre procurava valorizar o que de melhor a cidade tem. E jogava isso com habilidade, talento e afeto em cada página produzida. No primeiro livro, em 2013, grafou: “Tem muitos locais para se conhecer em Gravataí, além dos mostrados nesse livro”. Na ocasião, escrevera sobre aspectos históricos da cidade, a origem, os gravatás, o rio, o Passo das Canoas, o morro Itacolomi, a Fonte do Forno, a igreja Matriz, o Museu Agostinho Martha, entre outros pontos.

No trabalho lançado na Feira do Livro de 2017, há o registro de que “a autora não é nutricionista, mas como pedagoga utiliza as oficinas de culinária para crianças como auxiliar nos processos cognitivos e afetivos”. São receitas que Denise aprendeu com sua família, com a mãe Loreta, e as avós Hortênsia e Josina, e por aí afora. “É a cozinha do afeto que a fez trazer para nós um pouco de si”, consta na última página.

E a Denise sempre encerrava o livro com uma ilustração e a expressão “até a próxima, pessoal”. Não teremos mais uma “próxima”, mas fica com aquelas pessoas com as quais ela conviveu  a certeza de que sua passagem por aqui não foi em vão.

Muito obrigado, Denise!

 

 

 

 

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