RAFAEL MARTINELLI

As estratégias de Zaffa e Marco Alba na eleição para Presidência da Câmara de Gravataí; Os dois acham que ganharam

A mesa diretora da Câmara para 2024: Peixe, Clebes e Roger, com Anna à esquerda | Fotos TIAGO CECHINEL

Com diferentes estratégias, o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) e o ex-prefeito Marco Alba (MDB) travaram mais uma batalha da III Guerra Política de Gravataí, na eleição para a Presidência da Câmara de Vereadores, cujo resultado saiu próximo da meia-noite desta terça-feira, como reportei em Alex Peixe, candidato de Zaffa, é eleito presidente da Câmara de Vereadores de Gravataí; Governo elegeu toda mesa diretora para 2024.

Personalizo em Zaffa e Alba porque assim é. Só neófitos da política, ou hipócritas, vendem que “são Poderes diferentes, Executivo é Executivo, e Legislativo é Legislativo”. Em nenhuma aldeia é assim.

Sigamos.  

É inegável que Zaffa ganhou o jogo que se dispôs a jogar.

É errado forçar que Marco Alba (MDB) “não quis ganhar”. Pode até ter “ganho perdendo”, mas, em ambas as hipóteses, estamos diante do “se”.

Explico.

Começo com a vitória de Zaffa.

Peixe foi eleito com uma sobra de dois votos. Às vésperas do ano em que tentará a reeleição, Zaffa obteve uma prova de fidelidade de sua base, recomposta após o rompimento com Alba, seu ‘Grande Eleitor’ de 2020 e, até a deflagração da III Guerra, articulador político do grupo que comandava a Prefeitura desde o golpeachment contra Rita Sanco (PT) em 2011.

Ao estilo ‘Brasília é aqui’, que analisei, e não criticamente, em Vereador Demétrio ganhou mais uma secretaria para desistir da Presidência da Câmara; Brasília é em Gravataí? Isso é ruim? Respondo, inquestionável é que o governo mostrou capacidade de articulação.

Foi preciso convencer Demétrio Tafras (PSDB), também candidato. Era ‘só’ o presidente do novo partido de Zaffa. E já tinha promessa de votos dos colegas governistas Dilamar Soares (PDT) e do pastor Fábio Ávila (Republicanos).

Abriu mão em troca de mais uma secretaria, como reportei no artigo que citei acima.

Se foi artífice do acordo de governo com o sindicato dos professores para pagamento do piso do magistério – leia em O ‘ganhamos todos’ do acordo pelo fim da greve e pagamento do piso do magistério em Gravataí; Do ‘bem-vindo à política’ ao ‘aqui estou’ de Zaffa – o secretário da Fazenda, Davi Severgnini, debuta como articulador político do governo, em uma eleição política, como da Presidência da Câmara.

O poder de convencimento do governo foi tamanho que elegeu a mesa-diretora completa, inclusive com a base – exceto o bolsonarista-raiz Evandro Coruja (PP) – votando para vice-presidente em uma vereadora de oposição, a ‘esquerdista’ Anna Beatriz da Silva (PSD); claro, parte da aproximação política com o adversário na eleição de 2020, o secretário-adjunto de Esportes do Estado, Dimas Costa (PSD), marido da parlamentar.

Como tinha avisado a Zaffa, Dilamar Soares sustentou até o último momento a articulação para ter outro candidato da base, que não Peixe, que era apoiado por seu desafeto Cláudio Ávila (União Brasil); leia a ‘profecia’ em A crise da ‘barriga de aluguel’ na base de Zaffa em Gravataí: o risco de Dr. Levi a prefeito e Dila ‘com Alba, Bordignon e Dimas no inferno, mas nunca com Cláudio Ávila no paraíso’.

O nome do pastor chegou a circular nas conversas entre políticos.

Notório é que Dilamar saiu da sessão sob ataque dos colegas de base, que o consideraram o principal articulador contra a chapa do governo e já iniciaram movimento para pressionar o prefeito para demitir indicações do vereador na Prefeitura.

Não dá para esquecer de lembrar que Dila era descrito, por mim, em artigos nunca contestados, como “o vereador mais próximo do prefeito”.

Acontece que, com estratégia própria, o MDB não aceitou negociar e votar em uma mesa só com vereadores da base do governo, mesmo tivesse a chance de impingir uma derrota política ao prefeito; mas deste “se” trato mais abaixo, quando analisar a jogada de Marco Alba.

Sigamos nos ganhos de Zaffa.

O prefeito, que precisou recompor a base, primeiro para evitar ser alvo de CPIs e impeachments, ou golpeachments, e reforça-la para aprovar ‘pautas-bomba’ como o piso do magistério, tinha como obsessão tirar o comando da Câmara da influência do MDB de Alba.

Zaffa sentiu na gestão de Alison Silva (MDB) a dificuldade de ter um chefe de Poder adversário – apesar do filho do falecido prefeito Acimar da Silva não ter protagonizado grandes crises.

Mas, para ficar em um exemplo, projeto do governo repassando o novo Centro Administrativo para o IPG, o que amortizaria o déficit da previdência, foi trancado pelo presidente, que, do grupo de Alba, e contrário à compra da Ulbra para instalação da nova Prefeitura, impediu a votação até a última sessão do ano.

Peixe já avisou aos vereadores que será convocada uma extraordinária durante o recesso parlamentar de janeiro.

Alison também fez da Câmara um espaço para críticos do governo, desde associações de moradores e sindicato dos professores, até antagônicos ao novo Plano Diretor elaborado pela Prefeitura.

Como presidente de Poder, também não precisava de convite para participar da entrega de obras do governo e, se quisesse, quase como uma imposição do protocolo, discursar a favor de Alba; como aconteceu segunda na inauguração da nova Emergência SUS; reportei em Inauguração da nova Emergência SUS do Hospital Dom João Becker foi ‘Política 40º’; A ‘festa da firma Gravataí’.

A projeção do governo era de que, no ano eleitoral, a temperatura política subiria e seria necessário ter um presidente que, além de blindar o prefeito, tivesse a capacidade de evitar crises entre os vereadores da própria base – e o escolhido, Peixe, um político profissional, encerrou o ano como líder do governo e é querido por quase todos os vereadores.

Zaffa perder poderia, além de criar uma crise na base governista, iniciar uma debandada – ou volta, no caso – de apoios para o adversário Alba, principalmente daqueles se guiam pelo cheiro da vitória eleitoral.

Nem Zaffa nega que testemunha diariamente os seus sob teste do “vais trocar um ano com Zaffa por quatro, oito anos, com Alba?”.

Não por nada, no discurso após a vitória, Peixe agradeceu ao prefeito por ter feito “o possível e o impossível” para a “vitória do nosso governo”.

Os eleitos e parte dos vereadores que votaram na nova mesa diretora para 2024

Vamos agora para a estratégia do grupo de Alba.

Primeiro: conhecendo Alba, perder tentando ganhar não era uma possibilidade.

Por obvio, após saber dos movimentos do governo com a liberação de cargos, visitas, ligações e mensagens, Alba deve ter orientado os seus de que a soma do grupo dos 8 que não votariam em Peixe, mais os rebeldes da base, não seria suficiente se apenas um rompesse eventual acordo.

Aconteceu que um dos supostos 8 contra Peixe, Carlos Fonseca (PSB), votou com o governo, e dois se abstiveram, Paulo Silveira (PSB) e Thiago De Leon (PDT) – certo que isso só ocorreu após ser comunicada a estratégia do MDB de lançar candidatura própria, porém é uma tradução fática do “se”.

Mas, enfim, Alba nem cogitou o “se”.

Não soube eu de envolvimento – direto – algum do ex-prefeito em negociações com vereadores. Influiu sim na estratégia da ‘Família MDB’; para quem não percebeu, a grande aposta de sua campanha para voltar à Prefeitura.

Foi Alba a sugerir que o partido apresentasse uma candidatura própria para ficar com a narrativa de que representa o grupo que “transformou Gravataí” entre 2011 e 2020, e foi “traído” por Zaffa, que agora se alia aos adversários da última eleição.

Reputo a estratégia tem lógica para chegar a tal ‘narrativa’ que, se é benéfica a Alba, e prejudicial à Zaffa, só o ano eleitoral dirá.

Simbólico é que, na eleição de ontem, Peixe foi lançado por Bombeiro Batista, que foi eleito pela oposição – e era um crítico ferrenho, de postar vídeos nas UPAs e hospital, além de comandar páginas e redes sociais que pareciam crescer na mesma proporção com que atacavam o governo.

Na sequência, Anna, esposa de Dimas, segundo colocado em 2020 para Prefeitura, foi lançada vice-presidente por Clebes Mendes (MDB), vereador colocado na comissão de ética do partido pelo grupo de Alba por supostamente fazer campanha para Dimas e não para Zaffa.

Para completar, Clebes foi lançado como secretário da mesa por Cláudio Ávila (União Brasil), outro vereador de oposição que, da tribuna, já insinuou até corrupção nos governos Alba-Zaffa – esta, uma das justificativas de Dilamar para não estarem do ‘mesmo lado’.

Ao fim, foi o próprio Ávila que melhor descreveu o que aconteceu ontem: os ‘grandes’ da política “tiraram as crianças da sala”, cada qual com sua estratégia.

Resta, aí já em minha análise, que Zaffa ganhou a eleição no voto, elegendo seu presidente da Câmara e garantindo alguma paz para, em 2024, apresentar realizações que possam garantir sua reeleição.

E Alba acha que também ganhou, aí politicamente, com sua narrativa de que houve uma traição ao projeto da ‘Família MDB’, agora desmascarada pela associação de Zaffa a antigos adversários, e – pejorativamente – por representar o ‘Gravataí é Brasília’.

Ao fim, insisto, como em artigos anteriores: isso é política. Não é um crime. Cada qual com suas estratégias. No íntimo, cada político mede seus feitos e mal feitos. Publicamente, para a tropa, nunca perdem. Lembro uma do Millôr, lá de 1993, que dizia que “é normal que uma pessoa se ache mais inteligente do que outra, mas Fernando Henrique Cardoso é o único intelectual que se acha mais inteligente do que ele próprio”.

Fato é que, em outubro do ano que vem, é o eleitor a julgar e decidir, por um, por outro, ou por nenhum.

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