Alunos do Dom Feliciano, colégio particular mais tradicional de Gravataí, apresentaram à Câmara de Vereadores uma sugestão de projeto que ressuscita uma polêmica necessária: a tragédia da covid-19.
Alex Peixe (PSDB), presidente do Legislativo, recebeu o projeto de criação de um memorial às vítimas da pandemia, além de outras duas proposições que também listo neste artigo.
Trato prioritáriamente do memorial porque fiz a mesma sugestão em agosto do ano passado, em Gravataí poderia ter um Memorial para 1.116 vidas perdidas pela covid; O ‘PIXida’ genocida – e reputo um assunto sempre necessário, já que o tempo é sempre um cúmplice silencioso para apagar causas e conseqüências de tragédias; e a enchente de maio está aí para provar.
Antes, vamos às informações, que estão em material enviado ao Seguinte: pelo coordenador de comunicação da Câmara, Tiago Cechinel.
Os projetos, elaborados por dois anos, foram entregues à presidência nesta segunda-feira por um grupo de 60 alunos, acompanhados pelo professor Leonardo Pianta, do Itinerário Formativo de Cidadania e Perspectiva, também integrado pela coordenadora pedagógica Renata Rech.
– Como professor de formação em história, fico muito feliz. Coloquei toda a estrutura da Câmara à disposição dos alunos para que possam dar continuidade, e entrarei em contato com o prefeito Luiz Zaffalon para apresentar as propostas ao Poder Executivo – disse o presidente do Legislativo, Alex Peixe.
O professor Leonardo Pianta explicou que o projeto vem se desenvolvendo durante os anos de 2023 e 2024, dando o primeiro passo no novo modelo de ensino médio, e que, pensando na sociedade, surgiu a disciplina de cidadania, com a qual começaram a trabalhar temas relacionados à cidade.
– Começamos com essa dinâmica de tratarmos os temas locais da nossa cidade, reconhecendo o que ela necessita. É muito importante para os alunos terem essa vivência na Câmara de Vereadores, e serem recebidos pelo presidente Alex Peixe foi de grande importância para conhecerem como funciona o poder legislativo e também terem a honra de entregar diretamente ao presidente o projeto elaborado pelos alunos – disse o professor responsável.
– Muito legal, porque, se realmente esse projeto for aprovado e colocado em prática, será uma grande vitória. Ter um projeto com a minha ajuda, junto com um grupo de colegas, é emocionante – disse a aluna Maria Clara.
Confira os projetos e, abaixo, sigo com a análise sobre o memorial.
1.Memorial às Vítimas da Pandemia de Covid-19
Fica determinada a criação do Memorial às Vítimas da Pandemia de Covid-19, a ser instalado na Praça Eng. Leonel de Moura Brizola, em frente ao Hospital Dom João Becker, no bairro Centro deste município, com o objetivo de lembrar o nome das inúmeras vítimas fatais, cidadãos gravataienses, especialmente no auge da doença nos períodos de março de 2020 a julho de 2021, promovendo também o acolhimento às famílias devastadas pela perda de seus entes queridos.
2.Isenção de IPTU para instituições esportivas
Dispõe sobre a isenção de IPTU às instituições esportivas, em contraprestação ao incentivo gratuito de modalidades esportivas na comunidade. Fica reconhecida e declarada a isenção de pagamento anual do Imposto Predial e Territorial Urbano para instituições desportivas do município, contanto que haja o oferecimento de aulas gratuitas de práticas esportivas nas mais diversas modalidades à comunidade infantojuvenil, devidamente matriculada na rede de ensino.
3.Postos de arrecadação para desastres ambientais
Dispõe sobre a criação e aperfeiçoamento de postos de arrecadação, que atendam às necessidades da cidade, principalmente no que diz respeito às enchentes e grandes desastres ambientais vividos pelos moradores ao longo dos anos, visando solucionar o impasse que afeta a vida de grande parte da sociedade dentro do município. Cientes da imprevisibilidade e amplitude dos desastres ambientais, torna-se imperativo que a cidade esteja adequadamente preparada para enfrentar tais situações por meio de postos de arrecadação estrategicamente localizados, a fim de assegurar uma resposta eficaz e coordenada.
Sigo eu.
Como colaboração para o debate, reproduzo o que escrevi em Gravataí poderia ter um Memorial para 1.116 vidas perdidas pela covid; O ‘PIXida’ genocida – e, logo após, concluo com um alerta.
(…)
Gravataí poderia ter seu memorial para lembrar as vítimas da covid-19, assim como o Brasil terá, conforme anunciou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Além da reverência às vidas perdidas, serviria para nunca esquecermos dos efeitos nefastos de uma política de estado potencialmente homicida cometida pelo então deprimente da república; volto a isso após as informações, porque 1 a cada 4 mortes poderiam ter sido evitadas.
Do primeiro caso da pandemia, em 20 de março de 2020, até esta quinta-feira, 3 de agosto de 2023, foram registrados 45.388 infectados e 1.116 mortes; desde a primeira vida perdida em Gravataí, em 26 de abril de 2020, chegamos a uma média de quase 1 vida perdida por dia.
Para efeitos de comparação, em maio de 2021, mês mais virulento, registramos média de 6 óbitos a cada 24 horas.
No Brasil os números oficiais de hoje são de 37.728.415 casos e 704.794 mortes desde o início da pandemia. No mundo, 692.577.488 infecções e 6.903.987 vidas perdidas.
Dados do Portal Coronavírus da Prefeitura contabilizam 45.388 infectados nestes três anos e quatro meses – 52.41% mulheres e 37.62% homens; 21.79% até 59 anos; 26.8% até 39 anos e 13.8% até 17 anos.
Foram aplicadas pela Secretaria Municipal da Saúde 547.966 doses de vacinas, frente a uma população de 281 mil habitantes.
Agora vamos às responsabilidades.
Excluo o ex-prefeito Marco Alba e o atual Luiz Zaffalon, que enfrentaram a pandemia, assim como Miki Breier, em Cachoeirinha.
Eventual culpa tem os dois primeiros indiretamente, por terem sido, no segundo turno de 2018, eleitores de Jair Bolsonaro, e novamente no segundo turno de 2022, após a tragédia acontecida.
Inegável é, porém, que suas políticas municipais de saúde nunca foram negacionistas.
Vacinaram-se e permitiram vacinar. Usaram máscaras em público. Preservaram suas comunidades ao regulamentar atividades econômicas com decretos que as milícias de fake news jocosamente chamaram de ‘fica em casa’.
Infelizmente, restou o estrago de ter na Presidência da República um irresponsável, um desvairado, que precisou ser tutelado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ou não teríamos vacinas, ‘Orçamento de Guerra’ ou um auxílio emergencial minimamente suficiente – Paulo Guedes queria dar três parcelas de R$ 200 para desempregados e informais e mandar para casa, por 15 dias e sem salários, aqueles que tinham contrato de trabalho.
Possivelmente teríamos país afora experiências factualmente homicidas, como a ‘imunidade de rebanho’ e a cloroquina que ajudou a sufocar Manaus.
O dano foi tamanho que mesmo que as vacinas tenham salvo pelo menos 20 milhões de mortes – e ajudado a, em 5 de maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional –, saímos da pandemia com vacinas (qualquer tipo delas) mais desacreditadas que antes da covid; campanhas contra a Polio, por exemplo, beiram o fracasso e o índice de confiança na ciência atingiu o menor percentual já registrado em uma série histórica de 10 anos: 68,9% conforme pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia, divulgada em dezembro.
É a herança da covidiotia.
Aplicando em Gravataí fórmula constante no relatório final da investigação feita na CPI da Covid, no Congresso Nacional, poderíamos ter evitado pelo menos 500 das 1.116 vidas perdidas, tivesse o governo federal atuado sem negacionismo, e sim em articulação com estados e municípios na compra, divulgação e aplicação de vacinas, além das comprovadamente necessárias restrições sanitárias.
Ao fim, não sou eu, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, que culpam por parte das mortes na pandemia aquele que foi um deprimente da república e, ao vivo, retirou máscara de criança, imitou gente sufocando e disse que não seria vacinado – seja verdade, ou apenas um apito de cachorro a seus símiles, napoleões de hospício.
Nem uma vida será suficiente para apagar da minha memória imagens da UTI lotada, de gente embaixo de cobertores no chão do hospital de campanha, de sacos pretos que isolavam vítimas enterradas sem velório, ou do que talvez já fosse um memorial triste e macabro: o container instalado ao lado do Hospital Dom João Becker para armazenar corpos.
Eu faria um pix para ajudar na construção de um Memorial Para As Vítimas da Covid em Gravataí. Há quem prefira homenagear com dinheiro um ‘PIXida’ genocida.
(…)
Concluíndo hoje.
Resto feliz que alunos do Dom Feliciano tenham lembrado das mais de mil vidas gravataienses perdidas na pandemia, já que, como já referi acima, o tempo é sempre um cúmplice silencioso para apagar causas e conseqüências de tragédias – e a enchente de maio está aí para provar.
Inacreditável, mas sinto necessário reforçar que a análise, a opinião, é minha, para que delirantes não acusem os professores e a escola de doutrinação.
Torço que a incansável irmã Jane Segaspini não se incomode tanto quanto em 2018, quando nas eleições presidenciais o colégio publicou nota que dizia:
(…)
Com uma história de 170 anos de atuação na defesa, na promoção da vida e no resgate da cidadania e, face ao momento sociopolítico e econômico em que vivemos, manifesta seu posicionamento:
A FAVOR: da vida, da misericórdia, da caridade, da paz, do respeito, da liberdade, da verdade, da democracia, da participação cidadã, da solidariedade, e de todos os valores do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
CONTRA: a guerra, a violência, a ditadura, a tortura, a mentira, a exploração, a discriminação, o preconceito, o racismo, a dominação, o medo, o desemprego, a perseguição e tudo o que torna menos digna a vida – dom de Deus
(…).
Tratei disso em dois artigos: Como entendi nota das Irmãs do Dom Feliciano sobre eleições e Por que a Irmã Jane e Dom Feliciano escaparam de estar em lista de boicote a ‘esquerdistas’ em Gravataí; O Israelita, o Farroupilha e a Fita Branca.