opinião

Carta de um petista aos seus de Gravataí; Kingeski e o ’culto à personalidade’

Cristiano Kingeski com um exemplar de ’O golpe da injustiça’, livro escrito por Rita Sanco no ano seguinte à cassação

Cassado junto à prefeita Rita Sanco em outubro de 2011, o vice-prefeito Cristiano Kingeski divulgou uma carta ao PT de Gravataí.

Siga a íntegra e, por passagens do texto exigirem o resgate da memória não tão passada de nossa política, ao fim, comento.

 

“(…)

Companheiros e companheiras,

O Brasil enfrenta uma conjuntura de ataque à democracia, aos direitos sociais e a nossa soberania. O golpe injusto contra a Dilma, a prisão sem provas do Lula, o impedimento de sua candidatura, a eleição de Bolsonaro através de fake news e caixa dois são partes do mesmo golpe de uma perversa elite econômica  e política: entreguista, rentista, fascista e preconceituosa. 

O PT tem papel relevante na luta pela resistência e contra o retrocesso. Esta é uma tarefa de todos nós que acreditamos num mundo de paz e inclusão social e que já ajudamos em tantas conquistas onde governamos.

Aqui na nossa cidade não é diferente, não temos uma oposição que nos represente contra o governo do MDB, o mesmo MDB que em 2011 entrou pela porta dos fundos e se apropriou da prefeitura sem respeitar a democracia e aos 68 mil eleitores que elegeram Rita Sanco prefeita, o mesmo governo que usa de suas práticas de déficit zero e arrocho salarial dos servidores municipais, que acabou com as políticas de prevenção a violência contra a mulher, que acabou com programas como Proteja, Pronasci e tantos outros que ajudavam nas áreas de extrema pobreza da nossa cidade. É o mesmo governo que acabou com os projetos  culturais na nossa cidade.

Esse mesmo governo acabou com a participação popular mantendo todas as obras no Gabinete do Prefeito, com o intuito puramente eleitoreiro. Um governo que diz buscar o equilíbrio financeiro, mas não fala que quem iniciou o trabalho de sanar as dívidas do município foi a gestão Rita Sanco. O MDB cassou o nosso mandato e depois manteve o mesmo plano de ação para pagar as dívidas!

O fato de ter apoiado uma candidatura a vereador fora do PT nas eleições de 2016 não me fez perder a referência petista e da luta que precisamos travar coletivamente. Me fez refletir que apoiar projetos de uma pessoa e não de um partido não constrói um mundo melhor, pois esses apenas querem chegar ao poder para usá-lo e não servir ao povo.

Dito isto, me retrato através dessa carta aos gravataienses e aos meus companheiros e companheiras petistas e afirmo que nunca saí do PT e nem tive essa intenção. Continuo convicto das lutas de classes e sei muito bem de qual lado quero estar: o lado do povo

(…)”. 

 

Analiso.

Como em política a coincidência nunca foi eleita, a carta do vice-prefeito cassado sem nenhuma denúncia de corrupção e, hoje, com todos os processos arquivados pelo Ministério Público ou a Justiça, não foi divulgada nesta quinta por acaso. É, por óbvio, também uma resposta a Luiz Zaffalon (MDB), uma das estrelas do governo Marco Alba (MDB) – melhor retirar o ‘estrela’, já que Zaffa, até o próprio prefeito, há mais de meia década, pedir que não usasse mais a expressão, chamar a turma da estrela de ‘petralhas’ – que criticou governos petistas no artigo Zaffalon não sabe mentir; os gestores de 1,99.

A ‘defesa’, entretanto, ao menos no texto, restringe-se ao governo do qual Kingeski foi vice. Em minha opinião, ele não mente só quando diz que Lula resta condenado sem provas, o que sabe até o Reinaldo Azevedo, autor de ‘O País dos Petralhas’ I e II; ou quando fala que o MDB chegou ao governo ‘pela porta dos fundos’, já que, mesmo respeitando a legalidade, a ascensão ao poder se deu em uma eleição indireta após o que chamo golpeachment, mas também quando lembra que o ajuste fiscal que o MDB faz, e do qual Marco Alba e o ‘gerentão’ Zaffalon se orgulham, começou em 2009.

À época, era editor e colunista do diário Correio de Gravataí, e nos artigos que escrevia me referia a prefeita como Rita ‘Mãos-de-Tesoura’ Sanco, depois que o governo iniciou com um anúncio de cortes e cumprimento de um calendário de pagamento de dívidas deixadas (justa ou injustamente, isso é outra história e rende novo artigo) pelos companheiros Sérgio Stasinski e Daniel Bordignon.

Kingeski, proposital ou intuitivamente, também critica elemento metafísico da política de Gravataí: uma espécie de ‘culto à personalidade’.

Por uma amizade, hoje desfeita, apoiou Dimas Costa (PSD) em 2016. O que lhe rende uma suspensão de seis meses aprovada pelo diretório petista de Gravataí. Mas a crítica, ao menos assim entendo, não vale só para Dimas em uma Gravataí que vive há década o que chamo de ‘GreNal da aldeia’.

Sobre, mesmo pagando pena, ‘pedir desculpas’ ao PT, não acredito tenha ferido o orgulho de Kingeski. Literalmente, o ‘Naninho’ nasceu petista. Ouvia o refrão ‘partido-partido-é-dos-trabalhadores’ na barriga da mãe. Está onde quer, e gosta de estar. Mesmo que nunca mais concorra, ou que o PT, ou mesmo ele, tenham votos ou não.

Ao fim, Kingeski tem compromisso com o que escreveu e não com minha interpretação, mas acredito concordamos que hoje a oposição em Gravataí não parece ter um plano alternativo.

Até a eleição talvez algum oposicionista vá além de platitudes.

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