Perguntam-me pela linha de transmissão de notícias do Seguinte: pelo WhatsApp se os cemitérios públicos de Gravataí estão preparados para eventuais mortes por COVID-19. Sim, foi a resposta que obtive do secretário de Serviços Urbanos, Paulo Garcia.
As regras sanitárias já estão sendo seguidas em velórios e sepultamentos e não há nenhuma anormalidade na demanda por enterros.
Em caso de uma catástrofe, como em Manaus, ou Nova Iorque, o Cemitério do Rincão da Madalena, com mais área que o Central, é o que dispõe de espaço suficiente para abertura de covas.
Desde o primeiro caso da pandemia, nenhuma morte foi confirmada em Gravataí, apesar de três suspeitas, cuja destinação dos corpos precisou seguir o protocolo do Ministério da Saúde, sem velório e com caixão fechado, já que os exames ainda não tinham resultado.
O momento é de tranquilidade, mas de monitoramento diário de dados. Conforme o secretário, levantamento feito pela Prefeitura comparando março e abril, deste e do ano passado, não identificou aumento significativo no número de sepultamentos, o que poderia evidenciar mortes não computadas.
– Felizmente a curva do contágio está achatada e hoje não é um problema de Gravataí – diz Paulo Garcia, informando que há mais de 30 dias, em todos os sepultamentos, os coveiros já tem seguido as regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Ao fim, mesmo que tenha sido instigado por leitores, outros podem não gostar de artigos como este, o que percebi em reações no Grande Tribunal das Redes Sociais quando – em Vítimas da COVID 19 devem ser cremadas em Gravataí; caixão fechado – revelei as normas da Anvisa e a ordem judicial para sepultamentos enquanto durar a pandemia. Ainda é inimaginável um sepultamento coletivo em Gravataí, mas já é uma realidade brasileira, infelizmente.
Não é fake news de WhatsApp o que acontece na capital do Amazonas. Entre os dias 12 e 19 de abril, 656 corpos foram sepultados nos cemitérios públicos. Uma média de 82 cerimônias fúnebres por dia, frente aos 28 sepultamentos diários registrados em média em 2019.
Não é possível ligar diretamente esse aumento de enterros apenas à COVID-19. Mas não há outro elemento que justifique esse crescimento tão expressivo e abrupto no movimento dos cemitérios públicos manauaras.
Só entre segunda e esta quarta, foram 193 mortes.
Conforme reportagem do UOL, as autoridades admitem que cadáveres são levados às covas sem passar por testes para verificar o contágio.
Imagens chocantes, como a da agência internacional France Press, que uso para ilustrar o artigo, mostram caixões lacrados sendo enterrados em uma cova coletiva no cemitério com a ajuda de uma retroescavadeira.
– A metodologia, já utilizada em outros países, preserva a identidade dos corpos e os laços familiares, com o distanciamento entre os caixões e com a identificação das sepulturas. A medida foi necessária para atender a demanda de sepultamentos na capital – diz nota da Prefeitura de Manaus, usando a expressão “abertura de trincheiras”.
Ainda mais comovente lembrar que, em casos de internação pela COVID-19 em UTIs, familiares são afastados por semanas dos pacientes. Nem o celular podem atender e a comunicação acaba sendo feita pelos profissionais da saúde, muitas vezes mensageiros de últimas palavras.
É morte aos poucos, sem despedidas ou um último olhar, já que os caixões são invariavelmente lacrados. Salgo em lágrimas o teclado no qual digito, simplesmente ao imaginar tanta dor.
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