RAFAEL MARTINELLI

Autor, Cláudio Ávila pede à Câmara de Gravataí arquivamento de processo que poderia levar à cassação de Deadpool: na denúncia de dezembro, descrevia o vereador como “falso herói” e muito mais; O ‘sequestro’, o plot twist e a minúscula história

O vereador Cláudio Ávila (União Brasil) pediu arquivamento da investigação na Comissão de Ética da Câmara que moveu contra o colega de partido Fernando Pacheco por ações na fiscalização da saúde. O processo disciplinar poderia levar até a cassação do mandato. Resta o ‘Deadpool de Gravataí’ um sequestrado político.

Fernando Deadpool ainda é alvo de representações movidas pelo prefeito Luiz Zaffalon (MDB) e pelo vereador Dilamar Soares (PDT), o que já detalhei em Tem peso da assinatura do prefeito o novo pedido de Comissão de Ética que pode levar até a cassação do vereador Fernando Deadpool; Saiba o que diz ofício de Zaffa à Câmara de Gravataí e Vereador mais próximo ao prefeito Zaffa também pede Comissão de Ética para Fernando Deadpool; A Câmara ‘Pelada Em Gravataí’.

Reproduzo trechos do Memorando 160/2023, assinado por Ávila, que compartilha a responsabilidade com o colega de bancada Bombeiro Batista, e, abaixo, sigo:

“(…) Solicito o arquivamento do memorando 1982/2023 de minha autoria, tendo em vista que o Vereador Fernando Pacheco (UB) após tomar conhecimento da representação constante no memorando supracitado, conversou com a Bancada do União Brasil, exposto os graves motivos que lhe fizeram se manifestar publicamente com veemência e indignação, de forma a ser contestado pelo governo municipal e o Sindicato Médico”.

“(…) Diante disso, considerando o teor da manifestação do Edil com base em suas experiências in loco, resolve o União Brasil, através da sua bancada, acolher e apurar os graves fatos narrados, tendo em vista se tratar de uma das áreas mais sensíveis do serviço público de Gravataí. Igualmente, o Vereador Fernando cumpriu com o compromisso de contatar a representação da Santa Casa, o delegado de polícia que foi convidado para uma estranha e atípica reunião havida no Paço Municipal e demais autoridades e técnicos do setor esclarecendo a sua visão, bem como a sua natural indignação diante dos fatos presenciados pelo mesmo e demais testemunhas”.

“(…) Nesse sentido, em que pese as ações, eventualmente, não terem sido precedidas da melhor forma ou da melhor técnica, entende a bancada do União Brasil que assiste razão ao parlamentar dentro da sua missão constitucional de fiscalizar em alertar a sociedade, especialmente na área da saúde, e denunciar as suas constatações como agente fiscalizador. Sendo assim, não há como permitir uma inversão dos atos ou dos papéis, qual seja: investigar quem denuncia e contemporizar quem comete suposto ato ou omissão em detrimento da sociedade”.

“(…) Com efeito, assume o União Brasil, representado pelo vereador Bombeiro Batista na qualidade de futuro presidente do Partido na cidade, pelo vereador Cláudio Ávila, líder da bancada do União Brasil nesse legislativo, em acompanhar a atuação do referido vereador, sempre orientada pelos ditames legais e pelas diretrizes partidárias. Contudo, salienta-se que sempre que todo e qualquer ato, ação ou intimidação, afrontar a liberdade de expressão, a livre manifestação e a fiscalização prevista na Carta Magna, serão duramente combatidos pela nossa estrutura partidária e de luta”.

“(…) Por fim, fica consignado nessa Casa Legislativa que o União Brasil será um canal de discussão permanente sobre a nossa cidade, os problemas, acertos e planos, sempre com responsabilidade e altivez, através dos seus três vereadores e da direção municipal. Não obstante, deve o governo municipal também fazer a sua parte para que nenhum parlamentar tenha que se socorrer da indignação pública para auxiliar o seu povo em melhor atendido e para que de fato seja respeitado pelo sistema público municipal”.

“(…) Diante do exposto, é que este vereador, líder da Bancada União Brasil nessa Casa Legislativa, requer a retirada da representação, confiando que o vereador continuará fazendo o seu trabalho sem nenhum constrangimento, mas também observando o devido processo legal de fiscalização. Igualmente, informo aos colegas que o corpo jurídico da sigla está atento e acionado para todo e qualquer embate ou debate jurídico sobre o tema atinente ao Parlamentar da Sigla”.

Sigo eu.

Como todo brilhante advogado, Cláudio Ávila mostra capacidade para, metaforicamente, defender em um dia deus, no outro o diabo e vice-versa. Reputo, porém, as idas e vindas no caso sinalizam como uma biruta de aeroporto para a opinião pública.

Reproduzo trechos do Memorando 1982/2022, encaminhado por Ávila para a Presidência da Câmara em 27 de dezembro, um dia depois do prefeito Luiz Zaffalon, ao lado dos secretários municipais de Segurança, Flávio Lopes; da Saúde, Régis Fonseca, e a Procuradora-Geral do Município, Janaína Balkey, se reunir com a diretora do Simers, Daniela Alba, representantes da diretoria da Santa Casa e o delegado da Polícia Civil, Juliano Ferreira, para tratar da atuação do vereador.

Abaixo, sigo.

No documento que agora quer arquivar, e detalhei em Bomba política em Gravataí: Cláudio Ávila aciona Comissão de Ética que pode cassar Deadpool. Simers faz denúncia por ações nas UPAs; “Vão tentar me calar, prezo por minha segurança”, reage vereador, Ávila pedia que fosse “dado andamento aos pedidos de apuração constantes nessa casa, com especial atenção aos encaminhamentos do Prefeito Municipal”; além de “apurada, conforme noticiado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), as condutas que estão causando transtornos no sistema de saúde e colocando em risco a integridade dos profissionais de saúde” e “realizada uma busca nas redes sociais do parlamentar com exposições de fotos de menores de idades, ilusórias ofertas de ‘socorros’ para população e ataques aos médicos e demais profissionais de saúde”.

A referida denúncia, do Simers, tinha sido feita pela diretora Daniela Alba, que anunciou a avaliação de “providências jurídicas contra o legislador, que cria factoides e estimula a desordem social, além instigar a violência contra todos os trabalhadores da saúde”.

Já a representação do prefeito a que Ávila se refere diz respeito a incidente envolvendo Deadpool e uma médica no posto de saúde da parada 103, polêmica que tratei na série de artigos Vereador Deadpool contra Prefeitura de Gravataí: o vídeo e áudio que embasam ação indenizatória de 200 milDeadpool contra Prefeitura: Os documentos que prefeito enviou à Câmara sobre incidentes com vereador de GravataíNota de repúdio a Deadpool: Prefeitura de Gravataí anuncia que buscará responsabilização criminal e judicial em incidente envolvendo vereador e médica; ’Conduta aviltante’, diz Dr. LeviNo B.O. médica diz que vereador de Gravataí ’projetou-se em sua frente, esbarrando em seus seios’; Fernando Deadpool se defende em vídeoVereador Deadpool é levado em viatura para registrar B.O. em Delegacia após incidente com médica em posto de saúde de Gravataí; O futuro ’Boca Aberta’? e Incidente entre vereador e médica: Líder do governo quer comissão de ética e Deadpool desafia: ’Abram, Prefeitura foi covarde, tenho provas em vídeo de que fui agredido’; Os Karamazov de Gravataí.

No memorando, Cláudio Ávila argumentava que “tais pedidos se fazem pertinentes, haja vista que há condutas que ofendem os profissionais de saúde, além de questionar os procedimentos clínicos, de forma irresponsável, como se tivesse um conhecimento técnico superior aos profissionais atuantes na área”.

O vereador apontava também que, “de forma cristalina, as referidas condutas colocam em risco a integridade das equipes que trabalham nas unidades e até dos pacientes” e “diante disso, é notório que o Vereador tem causado diversos tumultos no sistema de saúde de forma temerária”.

No documento, Ávila levantava ainda suspeitas sobre “fura-fila”.

“Ademais, deve ser apurada a eventual prática de fura fila, uma vez que podem as supostas condutas passar à frente pessoas que estavam aguardando atendimento em detrimento daquelas que estavam ali por mais tempo”, justificava.

Na representação à Comissão de Ética, o vereador alertava que “essas condutas, além de colocar em risco a integridade física dos profissionais, tumultuam o sistema de saúde e deturpam a atuação parlamentar em total ofensa à essa Casa Legislativa”.

“Ao agir assim, é óbvio que o parlamentar atua com premeditado intuito de ‘caçar likes’ nas redes sociais. Igualmente, é de público que em suas postagens expõe crianças, com motivação de promoção pessoal, contendo verdadeira atuação artísticas, com poses cênicas e dissimulações”, analisava Ávila no documento, acrescentando que “diante disso, está caracterizado, sem sombra de dúvidas, ofensa ao decoro parlamentar, devendo ser convocado e analisado por essa Casa, especialmente pela Comissão de Ética e Decoro o teor da presente representação”.

Cláudio Ávila, que lembrava no documento que “o Vereador já foi advertido verbalmente e formalmente pela presidência no ano de 2021”, concluía assim: “Por fim, não há dúvida que os gestores, os profissionais e os demais parlamentares jamais gostariam de ver pessoas sofrendo e até morrendo. Também não se ouvida das atribuições fiscalizatórias do Vereador, entretanto, a forma inadequada, sensacionalista e distante de uma postura responsável, causam danos que devem ser apurados com rigor. Os verdadeiros heróis são os profissionais de saúde e não a sua oportunista fantasia de falso herói”.

Fica pior: à época, Cláudio Ávila tuitou. Reproduzo e, abaixo, sigo.

Sigo eu.

Por que suspeito Fernando Deadpool resta um ‘sequestrado político’?

No mesmo trecho do pedido de arquivamento em que Ávila coloca o “corpo jurídico” do partido para defender o vereador de “intimidações”, informa que “com efeito, assume o União Brasil, representado pelo vereador Bombeiro Batista na qualidade de futuro presidente do Partido na cidade, pelo vereador Cláudio Ávila, líder da bancada do União Brasil nesse legislativo, em acompanhar a atuação do referido vereador, sempre orientada pelos ditames legais e pelas diretrizes partidárias”.

É, hoje, Deadpool, um refém de seu partido. E, por consequência, do apoio à candidatura de Bombeiro à Prefeitura de Gravataí. Natural, já que é filiado ao União Brasil? Não. Em novembro Ávila assinou a liberação do vereador do União Brasil, para que pudesse se filiar a outro partido sem que a sigla buscasse seu mandato judicialmente por infidelidade partidária.

Inegável é que Deadpool não tinha mais para onde correr e precisa se submeter a capa que lhe cobrir e ao roteiro que lhe for apresentado. Para não correr o risco de perder o mandato, tem feito movimentos, como esse, e a espécie de ‘retratação’ que analisei em Fernando Deadpool tenta um ‘habeas corpus político’ em Gravataí. Bonito. Vai funcionar com os vereadores de Gravataí? A bala perdida que acha.

Ao fim, uma cassação é sempre um trauma para o político cassado, os que lhe cassam e também para os eleitores e a imagem da Câmara; sabemos todos que, no Grande Tribunal das Redes Sociais, não se diferenciam motivos, resta aos políticos apenas a presunção de culpa por ‘corrupção’.

Porém, se Deadpool conseguir evitar uma cassação de mandato em 2023, no ano que vem, que tem eleição, uma cassação de seu mandato, fora do “tempo adequado” (aqui empresto expressão usada por Ávila no tuíte acima), pode representar um plot twist, aquela virada no fim do filme, e a seu favor: de acusado de ‘vilão’ para ‘mocinho’ perseguido pelo ‘sistema’.

Aguardemos os próximos capítulos dessa história que, a cada cena, se mostra minúscula frente ao tamanho de Gravataí.

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