Está lá, como a primeira diretriz do Plano Nacional do Livro e Leitura, de 2011: “democratização do acesso aos livros”. Da teoria à prática, basta uma iniciativa simples, como a que acontece há dois anos na recepção da Primer RH, uma agência de empregos de Gravataí que criou, a partir de uma estante, a sua — ou melhor, a de quem quiser — biblioteca livre.
— É diferente e uma biblioteca normal, porque não exigimos cadastro, taxas e nem compromisso com o tempo para ficar com o livro. Também não é preciso trocar, ou trazer livros. Nossa intenção sempre foi fazer os livros circularem. O único compromisso que sempre pedimos a todos é que, ao terminarem, não deixem os livros nas gavetas, ou parados. Repassem a quem ainda não leu. Esta é a magia dos livros, a transmissão do conhecimento — diz a gerente da empresa, e uma das autoras da iniciativa, Daiane Rodrigues dos Santos.
A biblioteca livre na Prime é a primeira deste tipo em Gravataí, e segue uma tendência surgida nos Estados Unidos e Europa a partir do começo da década passada. No Brasil, virou uma nova onda há cerca de cinco anos. Por isso, ainda não há um levantamento preciso sobre o número de bibliotecas livres, ou iniciativas que reúnam diversas delas, no país. Sabe-se, por exemplo, que mais de 70% das escolas brasileiras não têm bibliotecas, e que boa parte dos municípios não contem com bibliotecas públicas.
Estima-se que projetos como o da Prime já cheguem a pelo menos 400 em todo o Brasil. A inspiração para Gravataí veio de Curitiba, onde existe a biblioteca livre Pote de Mel, funcionando em uma padaria.
LEIA TAMBÉM
COM VÍDEO | Em Cachoeirinha, a leitura tem parada obrigatória
Um dia para celebrar os livros em Cachoeirinha
A cada história da Feira, o legado da Denise Medonha
— Meu irmão trabalha em uma livraria e me mostrou aquela iniciativa. Eu pensei que seria uma boa ideia para o nosso ambiente, no qual as pessoas vêm em busca de novos objetivos e uma oportunidade. O perfil do nosso leitor, em sua maioria, ainda é de pessoas que lêem um pouco enquanto esperam, mas poucos chegam a levar os livros. Exceto quando temos algum título mais requisitado — comenta Daiane.
Especialista em recursos humanos, Daiane assegura que pessoas com mais leitura, ou que busquem mais conhecimento e cultura, fazem a diferença no momento, por exemplo, de uma entrevista de emprego.
— É possível notar a diferença e a desenvoltura deste candidato. Ler e aprimorar conhecimento são fundamentais.
Festa literária
Na região, a iniciativa está longe de ser isolada. Há pouco mais de um ano, funcionam em Cachoeirinha duas paradas de ônibus com projetos semelhantes, além do Ponto de Leitura, na Praça Telmo Dorneles, também em Cachoeirinha. As iniciativas seguem a mesma lógica das bibliotecas livres, nas quais a regra principal é que os livros circulem.
No dia 16 de março, por exemplo, acontece a 1ª Festa Literária da Praça Telmo, que irá celebrar a livre leitura e a circulação dos livros. As iniciativas de Cachoeirinha já fazem parte de um grupo denominado Redes de Leitura, que reúne outros projetos comunitários semelhantes na Região Metropolitana.
SAIBA MAIS
: A Biblioteca Livre Gravataí fica na Rua Anápio Gomes, 1471/Sala 203, Centro.
: Não é preciso fazer cadastro para sair de lá com um livro ou doar os seus livros para a biblioteca livre.