A coroação do deputado estadual Dimas Costa como o ‘embaixador’ de Eduardo Leite em Gravataí aconteceu na noite deste sábado, em aniversário para 1,6 mil pessoas, no CTG Aldeia dos Anjos –– com simbologia de intimidade política e cantoria do governador. Virou notícia estadual e nacional, até.
Em 31 de janeiro de 2023, criei a expressão ‘embaixador do governador’. Uns tantos riram. Acharam que era coisa de amigos. Poucos observaram o critério jornalístico. À época, Dimas assumiu como secretário estadual adjunto do Esporte. Um cargo de segundo escalão, mas naquele momento o mais alto ocupado por um gravataiense no governo reeleito no ano anterior.
Durante a campanha de 22, a deputada estadual Patrícia Alba, ex-primeira-dama de Gravataí, tinha aberto dissidência no MDB, ao lado do ex-prefeito Marco Alba. Apoiaram Onyx Lorenzoni (PL) ao Palácio Piratini. Hoje na base do governo, ela então se apresentava como “independente”.
Não seria exagero tratar como ‘embaixador’? ‘Adido’ não seria mais correto?, pode alguém perguntar.
Acontece que, na defesa de Leite, Dimas se atirou na frente das balas nos temas mais polêmicos daqueles meses pré-enchente: no âmbito local, a possibilidade de instalação de um pedágio na ERS-118; no âmbito estadual, a proposta de aumento no ICMS –– pautas às quais os Alba manifestavam contrariedade e até organizavam oposição junto a movimentos como o RS Sem Pedágio e entidades como Fiergs e Federasul.
Dimas –– que deu entrevistas ao Seguinte: que chegaram ao governador e receberam de volta mensagens de agradecimento pela defesa política –– experimentou o sabor agridoce de ser governo: não se associou apenas ao oportunismo de alguns que comemoram obras, enquanto se escondem de polêmicas –– algo característico à base de apoio leitista.
O próprio governador utilizou a expressão ‘embaixador’ ao se referir a Dimas, em visita a Gravataí em 31 de janeiro deste ano.
Ali, o gravataiense já tinha se aproximado do prefeito Luiz Zaffalon em 24, colaborado com a reeleição ao desistir da candidatura à Prefeitura quando tinha 12% nas pesquisas e, como prêmio, sido alçado por Leite à deputado –– o governador tirou de campo o deputado federal Danrlei de Deus, que era o secretário, escalou Gaúcho da Geral na Secretaria de Esportes e Dimas, primeiro suplente com 27.956 votos em 22, assumiu a cadeira na Assembleia Legislativa.
A simbologia da intimidade política
A coroação de sábado guardou elementos simbólicos de intimidade política. Leite trouxe o marido, médico Thalis Bolzan. Que no palanque foi saudado pelo prefeito, ao lado da esposa Marlene: “Gravataí te recebe de coração aberto”.
A mais alta nota, mesmo que contrastando com escorregadelas no timbre e tom, foi a cantoria feita pelo governador. Executou “Canto Alegretense”, “Castelhana”, “Querência Amada” e “Evidências”. Saiu do palco como um pop star, quase arrastado até o carro por uma multidão que queria abraçá-lo e captar selfies.
– Estou aqui porque é justo que a gente faça homenagem a quem trabalha, se dedica – celebrou Leite, dizendo que “Dimas não só representa Gravataí, mas é um cara que ajuda a construir soluções para o Estado”.
– Já fizemos muito por Gravataí e vem ainda muita coisa – prometeu.
O ‘baile’ foi notícia estadual e nacional. O Poder 360, um dos sites mais influentes da política nacional, deu matéria. E Rosane Oliveira abriu sua coluna na Zero Hora, escrevendo: “Único deputado do PSD na Assembleia Legislativa atualmente, Dimas foi uma das peças-chave para filiação do governador ao partido, que nas próximas semanas também deverá receber o reforço do prefeito Zaffalon” –– o que, na festa, Zaffa também confirmou ao Seguinte:, conforme já havíamos antecipado: dia 30 se filia ao PSD, na festa de recepção a Leite, em Porto Alegre.
Percebam que Rosane credita Dimas como “peça-chave” na filiação de Leite. Aí inscreve-se outra característica do gravataiense; o “Animal Político”, nomenclatura já usada pelo prefeito ao referir-se a ele. Se exerceu alguma influência ou não, só Leite sabe. Mas estava no lugar certo, na hora certa: na casa do presidente nacional do PSD Gilberto Kassab dois dias antes do governador anunciar a troca de partido. Rosane leu no Seguinte:.
Também obra das articulações do ‘Animal Político’, chamou atenção a presença do chefe da Casa Civil do RS, Artur Lemos. O ‘número 1’ de Leite na gestão pouco é visto em atos que não sejam institucionais. Retribuiu, porém, a Medalha do Mérito Farroupilha, maior honraria do parlamento estadual, entregue a ele por Dimas neste ano.
– O Dimas é um grande amigo, um grande representante do município de Gravataí. Está todos os dias lá, no Palácio, atrás de recursos para Gravataí – disse.
Os gritos do Sr. Protocolo
O ‘Sr. Protocolo’, aquele das presenças e ausências, também reservou outras marcas políticas na festa, além de mais uma demonstração de que em 2026 Dimas será o candidato de Zaffa.
– Nada disso que aconteceu foi só trabalho nosso. Teve o trabalho do Dimas permanentemente, junto comigo, buscando esses recursos para Gravataí. Então hoje eu sou um cara feliz: eu sou o prefeito de uma cidade que tem a parceria de Eduardo Leite e a parceria de Dimas Costa – disse o prefeito.
Gritou, mesmo que todos integrem a base de governo de Leite, vídeo enviado pelo vice-governador Gabriel Souza, além do discurso do secretário de Logística e Transportes do Estado, Juvir Costella:
– Não vim apenas para te dizer feliz aniversário. Eu vim pra te dizer que tu é o cara. Ano que vem nós vamos estar contigo. Nós vamos fazer de ti um dos deputados mais votados do Rio Grande do Sul – disse.
Por que “grita” politicamente? Gabriel e Costella são do MDB, partido de Marco e Patrícia Alba, adversários do grupo político de Dimas e Zaffa em 2026 e em 28.
Além de Costella, que concorre a deputado federal, Dimas também deve fazer dobradinha com Lucas Redecker, que confirmou ao Seguinte: que vai trocar o PSDB pelo PSD:
– É o deputado estadual que eu vou ajudar a eleger – disse o parlamentar de 96.561 votos, que concorre à reeleição.
O líder do PSDB na AL, Valdir Bonatto, outro cotado para dobradinha, não estava presente. Nas ausências, porém explicadas, o secretário da Fazenda Davi Severgnini, o ‘Zaffa do Zaffa’, principal fiador do apoio do prefeito a Dimas em 26, que comemorava aniversário do filho.
Como não sei “contar a história do futuro”, como o Padre Vieira, reputo Redecker também serve como símbolo uma das grandes dúvidas que envolvem a eleição de Dimas em 26: qual impacto eleitoral terá o reposicionamento político, da oposição para o governo, da esquerda para o centro? Dimas perdeu a eleição para Zaffa em 2020, antes da atual parceria política. E, ex-PT, já teve como norte o ex-prefeito Daniel Bordignon, além de ainda preservar em suas redes sociais fotos com Olívio, Tarso, Dilma e Lula. A polaróide de hoje tem Leite, Kassab, Zaffa, Constella e Redecker –– todos do meio para à direita na ferradura ideológica.
No ‘Sr. Protocolo’ local, um terço da Câmara de Vereadores se fez presente, numa miríade partidária. Além da esposa, vereadora Anna Beatriz da Silva (PSD), Alex Peixe (PSDB), Bino Lunardi (PSDB), Marcia Becker (PSDB), Mario Peres (PL) e Roger Correa (PP). Surpresa e com potencial de constrangimento político foi, levando um abraço de Sérgio Zambiasi, a presença de Paulinho da Farmácia, do Podemos de Dr. Levi Melo –– o vice-prefeito é candidato a deputado estadual, assim como Dimas.
A presidente da Câmara de Cachoeirinha, Jussara Caçapava, recém lançada pelo Avante como candidata ao Senado em 26, também estava entre vips da festa. A vereadora vai apoiar Dimas, mesmo que o governo que faz parte tenha como candidata preferencial à AL a esposa do prefeito Cristian Wasem (MDB), Fabi Medeiros (MDB).
Ao ritmo do extremo-centrismo
– Minha mãe mora há 40 anos na 118 e não acreditávamos que seria duplicada. A emergência do Becker também – foram alguns dos agradecimentos de Dimas a Leite, ao lado da mãe, Margarida, no discurso de palco.
Na véspera do aniversário de 43 anos, Leite liberou R$ 22,7 milhões para construção de uma trincheira de acesso da Avenida Brasil à ERS-118, reivindicação de Dimas desde que fazia oposição.
– Trabalho para dar orgulho para esse rapaz aqui, para ele saber que o pai acorda todos os dias para lutar pela cidade – concluiu, abraçado ao filho Lorenzo, 9 anos, que cantou 11 Vidas, de Lucas Lucco, para homenagear o pai, abrindo a cantoria que seguiu com o governador assumindo o microfone.
Eduardo Leite que, até no repertório, é um ‘extremo centrista’. No sábado, em Gravataí, atacou com o sertanejo “Evidências” (Chitãozinho e Xororó). Na sexta, na abertura do Festival de Cinema de Gramado, foi de “La Vie en rose”, popularizada no pós-Segunda Guerra por Édith Piaf.
Ao ir embora, perguntado pelo Seguinte: sobre ser a favor ou contra a Anistia, disse:
– Eu acho que essa é uma discussão que está lá no Congresso e nós temos que trabalhar para pacificar o país. Há novidades que podem vir, propostas lá no Congresso, algo razoável… Mas certamente não ter punição nenhuma para quem cometeu crimes não é admissível.
Se disse “sim” ou “não”, sobre o Dia D da Grande Guerra Política Nacional, de democratas contra golpistas, não sei afirmar. Certeza apenas que coroou Dimas de vez como seu embaixador em Gravataí. Pelo extremo centro, amém.
Assista ao vídeo com o ‘show’ de Lorenzo & Leite
