Recomendamos o artigo de Walter Casagrande Jr., publicado pelo UOL
Por enquanto, o caso Daniel Alves está em investigação, mas, pela prisão sem direito a fiança, as acusações têm fundamento. Ele tem dupla cidadania e, caso fugisse e viesse para o Brasil, não poderia ser extraditado. A situação dele está muito grave, porque, a princípio, disse que nunca tinha visto a garota nem sabia o nome dela, e que tudo era uma mentira. Ontem, porém, ele afirmou que teve uma relação consensual. Assim, ele se contradisse em seu depoimento, segundo a polícia.
A garota foi ao hospital, e os exames mostraram que ela teve lesões que apontam para violência sexual. As câmeras mostram todo o movimento deles, além do desespero dela após a saída do Daniel do banheiro. As investigações encontraram resíduos de sêmen no local. Deixo claro que, apesar de já estar preso e sem possibilidade de fiança, ele ainda está sendo investigado.
Há muita coisa em comum entre o comportamento do Robinho, já condenado por estupro na Itália, e o caso do Daniel Alves. Os dois jogadores estavam na área vip de uma boate e convidaram as mulheres a irem até lá. Tanto Daniel quanto Robinho ostentam uma personalidade com arrogância e prepotência, praticando uma soberba que baixa a guarda da pessoa. Quando alguém entra nesse movimento, inevitavelmente se sente superior e acredita que pode tudo, que nada de errado pode acontecer. Afinal de contas, todos lhe parecem inferiores.
Robinho agiu descaradamente ao dizer “quem ele era”, para, claramente, deixar a garota acuada. E para poder, com ela embriagada, agir covardemente junto de seus comparsas, no que se configurou um estupro coletivo de vulnerável, como afirmou a Justiça italiana. Já Daniel fez ao contrário: mentiu sobre sua identidade e disse que jogava num time da terceira divisão, tentando confundir a garota. O propósito seria ter um álibi, alegando que não a conhecia nem sabia o seu nome.
Na cabeça dele, caso ela fizesse uma denúncia, como realmente fez, ele enganaria a Justiça, porque a denúncia seria contra um jogador da terceira divisão e ele é o “poderoso” Daniel Alves, que poderia ter a mulher que quisesse e não precisaria violentar ninguém. O problema, para o roteiro imaginado por ele, é que, além do depoimento da garota ter sido contundente, o relato dela não apresentou nenhuma contradição. O caminho está bem obscuro para ele. E o que deixa tudo mais intrigante é o silêncio dos seus advogados, do empresário e de sua assessoria. Não vimos, até agora, um pronunciamento com argumentos contundentes em relação a sua suposta inocência.
Agora, a Justiça espanhola está na fase de colher depoimentos das testemunhas, fazer perícia no local e avaliar resultados de exames médicos. Os jornais dizem que a Justiça tem um prazo de quatro anos para concluir as investigações, mas acredita-se que termine antes disso. Depois da investigação concluída, será marcado o julgamento. Caso seja condenado, o Daniel corre o risco de pegar até 12 anos de prisão, segundo os jornais espanhóis. Obviamente, violência sexual não é algo engraçado, mas é impressionante o que tem de gente fazendo comentários para passar pano ou desqualificar a vítima. É preciso se colocar no lugar dela e de seus familiares.
Deixo uma pergunta para aqueles que entrarão aqui para mudar de assunto e tentar virar a discussão para embates sobre política, esquerda ou direita, Lula ou Bolsonaro: não façam isso, porque o assunto é sério e merece respeito. Minha questão é apenas essa: e se fosse uma mulher da família de vocês, como se sentiriam? A empatia vem quando a gente se coloca no lugar do outro. Podem concordar ou discordar do texto, mas deem a opinião sobre o assunto porque esse debate é sério mesmo.
Para quem não entende muito como funciona uma imposição masculina machista, recomendo o filme “Ela Disse”, que conta a história de Harvey Weinstein. Grande produtor de cinema, ele escalava atrizes para grandes filmes em troca de sexo. Hoje, ele cumpre pena de 25 anos de prisão, condenado por dois casos de estupro, além de várias outras acusações.