É uma UTI econômica para Gravataí a General Motors adiar mais uma vez a retomada da produção. A previsão inicial era junho, foi prorrogada para 1º e 19 de julho, e agora para o dia 3 de agosto. Desde o início da pandemia, a montadora já parou por 12 meses. O custo é de uma Ponte do Parque dos Anjos a cada 30 dias.
O motivo alegado pela GM é o mesmo que provocou a parada total em março: a falta de peças. Em especial, semicondutores, cuja escassez também já paralisou indústrias de veículos da Chevrolet em outros países. São os mesmos usados em aparelhos de celular, por exemplo.
Em nota, a direção diz que vem trabalhando com fornecedores para retomar a produção em Gravataí “o mais rápido possível”.
A medida inclui todo o complexo da GM em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. Além da fábrica de veículos, o local tem as sistemistas, que são as fornecedoras da montadora. Estima-se que as empresas, juntas, empreguem 5 mil trabalhadores.
Como reportei em abril em GM parada, Onix perde liderança e Gravataí dinheiro; ’É a pandemia, estúpido’!, a suspensão na produção fez com que o Onix, produzido em Gravataí, perdesse para o Fiat Strada a liderança de vendas que comemorava desde 2015. O Onix também perdeu a liderança no ranking sem veículos maiores, como picapes, para o HB20, da Hyundai.
Os cálculos do secretário da Fazenda de Gravataí Davi Severgnini são de que a produção seja reduzida para um terço no complexo automotivo que induz 15% da economia local e é responsável por 40% do retorno impostos: dos R$ 200 milhões, R$ 50 milhões são da GM.
A conta da tragédia é que cada mês com a montadora parada corresponda a R$ 5 milhões perdidos por Gravataí. É uma ponte do Parque dos Anos a cada 30 dias, cujo impacto total chega em dois anos.
O remédio amargo para a perda de receita o prefeito Luiz Zaffalon (MDB) já enviou à Câmara: a Reforma da Previdência. Com um rombo de R$ 1 bilhão e uma projeção de economia de cerca de meio bilhão, Zaffa apresenta o que chamada “reforma das reformas” como salvação para os investimentos em Gravataí nos próximos 20 anos.
Detalhei a 'pauta-bomba' em artigos como Zaffa entrega à Câmara de Gravataí a ’reforma das reformas’; Assista, Uma Reforma da Previdência para salvar não só aposentadorias, mas investimentos por 20 anos em Gravataí; A Falha de San Andreas, Reforma da Previdência de Gravataí: servidores não terão aumento de alíquota a pedido de vereadores da base de Zaffa; A Falha de San Andreas e um Hospital e Reforma da Previdência de Gravataí: Professores surpresos com fim de negociações; ’Somos contra esse pacotaço’.
Sem a reforma o cálculo do prefeito é de que o orçamento, combalido pelos investimento na pandemia, termine ao fim deste semestre.
Ao fim, como amplio a lembrança de 1933 não foi um ano bom, de Fante, que citei em março quando a GM parou a produção.
O protagonista falava consigo mesmo:
– Foi um inverno ruim. Uma noite, arrastando-me para casa na neve infernal, os dedos dos pés ardendo, as orelhas em fogo, a neve rodopiando ao meu redor um bando de pássaros irados, estaquei no meio do caminho. Era chegada hora de fazer um balanço. Com bom ou mau tempo, certas forças no mundo estavam em ação tentando me destruir. Aguente firme, Dominic Molise!
Fato é que, se 2021 já é pior do que 2020, e 2022 pode ser pior ainda, mesmo que a pandemia termine amanhã – assim como nossas tristezas.
Um milagre que não aconteceu para Dominic que, frente às impossibilidades da vida humana, escolhia entre seu sonho dourado e uma pequena existência que lhe era insuportável.
2021 não será um ano bom.
2022 talvez.
Até ideologia, seja qual for, precisa ser baseada em um orçamento.
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