Os indicadores da COVID-19 pioraram ainda mais depois que Gravataí recebeu “Aviso”, o primeiro dos ‘3 As’, o novo sistema de monitoramento da pandemia do Governo do Rio Grande do Sul. Tintas vermelhas demais no novo colorir mapinha? Terrorismo midiático de urubu da aldeia? Não. É a ‘ideologia dos números’. Neste artigo comparo os dados da primeira quinzena de maio e os últimos 5 dias.
Não só a Região 10, da Grande Porto Alegre, com 5%, mas todas as sete macrorregiões gaúchas registraram na última semana aumento no número de hospitalizados em leitos clínicos – o que tem como consequência a pressão nas UTIs. Em geral, o aumento nas internações em leitos clínicos é seguido de ampliação por demanda de UTIs (leitos de alta complexidade).
O boletim de aviso para Gravataí e região veio no dia 22, alertando para o aumento na incidência de casos e “leve crescimento nas internações hospitalares”, uma mudança na curva que mostrava melhora no dia 15, como tratei em Gravataí e Cachoeirinha: como estão números da COVID na estreia do ’3 As’; UTIs seguem lotadas.
Se na primeira quinzena a ocupação de leitos de UTI na Região 10 era de 72%, nos últimos 5 dias subiu para 77,8%. Eram 180.603 casos da COVID-19 e hoje são 183.540. Os óbitos era 6.955 óbitos e chegam a 7.167. A taxa de mortalidade subiu de 293.6 a cada 100 mil habitantes para 302,5/100 mil.
Gravataí fechou a primeira quinzena com 20.935 casos e 716 vidas perdidas. Neste dia 25 chegou a 21.226 infecções e 734 óbitos. Foram 291 casos e 18 mortes em 5 dias.
A média diária de 21 infectados e 2,7 óbitos na primeira quinzena – que era uma boa notícia frente a 76 casos/dia e 5 mortes por dia em abril, e, em março, pior mês da pandemia, 6,5 mortes a cada 24h – triplicou entre os dias 15 e 25, atingindo média diária de 58.2 infectados e 3,6 mortes.
Para efeitos de comparação, janeiro e fevereiro tinham média próxima a 2 vidas perdidas por dia.
Assim como no último dia da primeira quinzena, há pacientes esperando leitos entre os 38 mantidos, após o fechamento de 112 quando os indicadores melhoraram. Dia 15 eram 6, neste dia 25, eram 7 aguardando em poltronas, no Hospital de Campanha. As 10 UTIs seguem lotadas.
Reafirmo: preocupa-me por demais a previsão de Miguel Nicolelis, que alerta para uma terceira onda devido à vacinação a conta gotas – temos, com dados de hoje, apenas 14% vacinados com a primeira e segunda dose – e a chegada do ‘General Inverno’.
É o cientista que chamo ‘Nostradamus da pandemia’ por, ainda em janeiro, e sob críticas de ser alarmista, ter profetizado a segunda onda, como tratei em O ’caminho da extinção’: Gravataí volta ter mais nascimentos que óbitos; O Nostradamus da pandemia e a profecia da terceira onda.
Como Dr. Stockmann, em Um Inimigo do Povo, apelo por responsabilidade aos prefeitos que agora estão com o pincel de colorir mapa, e também, ou principalmente ao povo, para que a falsa sensação de normalidade não nos leve à tragédia de março e ao triste ineditismo de termos mais mortes do que nascimentos, como detalhei em A virulência da COVID em Gravataí: O mês que teve mais mortes que nascimentos.
Inegável é que o sistema ‘3 As’, que libera geral, no ‘novo normal’ tem ganho por covidiotias um outro ‘A’, de “aglomeração”, como mostrei em Aglomeração de ’Copacabana Palace’ em Gravataí; Pancadão da COVID depois derruba comércio em geral.
Ao fim, Zaffa, em Gravataí, que reduziu 112 leitos com a melhora nos indicadores e os altos custos, e Miki, em Cachoeirinha, que pelos mesmos motivos fechou o Hospital de Campanha, recomenda-se acrescentar outro “A”, o de “antecipação”.
Já podem preparar os leitos.
LEIA TAMBÉM