RAFAEL MARTINELLI

‘Guerra pela água’: ações emergenciais da Corsan estão fazendo rio Gravataí sair do ‘nível zero’; “Ufaaaa. Hoje mais aliviado”, diz prefeito Zaffa. Assista vídeo

Corsan tem cinco máquinas operando na limpeza do canal

“Ufaaaa. Hoje mais aliviado. Evoluindo”. Assim o prefeito Luiz Zaffalon (MDB) se manifestou ao Seguinte: por mensagem de WhatsApp após a Corsan atingir a limpeza de metade do canal do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) no rio Gravataí, ação emergencial que reportei na segunda-feira em Limpeza do canal ‘vilão’ do rio Gravataí é mais uma batalha, mas longe do ‘Dia D’ na ‘guerra pela água’; Dê-nos água, Leite!.

O desassoreamento completo é previsto até sexta-feira. A água do canal chegou na zona de captação ao meio dia desta terça e o boletim das 17h do Departamento de Gestão de Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS) já apontou o rio em 0,29 metros, ainda abaixo do nível crítico de 0,50, mas acima dos 0,06, ou ‘nível zero’, da segunda.

– A Corsan está cumprindo com o prometido – reconheceu Zaffa.

A companhia trabalha com cinco máquinas no canal, naquela que é a segunda ação emergencial para garantir o abastecimento de 60% dos consumidores de Gravataí, ou 150 mil pessoas.

A primeira medida foi a construção de uma espécie de barragem no Mato Alto, cujo estoque de água era projetado para 50 dias, como o Seguinte: reportou em SEGUINTE TV | Rio no nível zero: Corsan faz ‘barragem’ emergencial no Mato Alto para garantir água para Gravataí durante o verão; Assista.

O canal – aberto nos anos 60 para beneficiar os arrozeiros e que, por desviar o curso original do rio, resta como um dos culpados pelo ‘rio nível zero’ pela última década – tem seus cerca de sete quilômetros de extensão com vazão bloqueada por vegetação e areia. A desobstrução projeta desviar do Banhado dos Pachecos, em Águas Claras, Viamão, até o Gravataí.

Apesar do aumento no nível, segue suspensa a captação de água que não seja exclusiva para o consumo humano.

De acordo com as regras definidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), quando a medição fica abaixo de 0,50 metro é determinado estado crítico e a retirada de água fica suspensa para todas as finalidades, exceto para a distribuição ao consumidor.

Quando o nível está acima de 0,80 metro, é definido estado de atenção e a captação de água acontece normalmente, mediante monitoramento permanente. Abaixo dessa marca, começa o estado de alerta, tornando intermitente a possibilidade de captação para irrigação e outras finalidades que não sejam o abastecimento para o consumo humano.


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Ao fim, como no artigo de quarta, insisto é mais uma batalha, mas ainda longe do ‘Dia D’ na ‘guerra pela água’ travada no manancial que abastece mais de um milhão de pessoas também de Cachoeirinha, Glorinha, Viamão, Alvorada e Santo Antônio da Patrulha.

As medidas são emergenciais, como confirma a própria companhia.

Como tratei numa série de artigos no Seguinte:, a (nem tão grande assim) grande obra para enfrentar a falta de água são as 13 microbarragens no rio Gravataí.

A Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional) tem recursos destinados, mas desde 2018 não conclui o estudo de impacto ambiental (EIA/Rima), para o qual a empresa Ecossis Soluções Ambientais venceu o processo licitatório por R$ 400 mil. Os R$ 5 milhões para a obra já eram previstos em 2012, no PAC da Prevenção.

Como atesta o geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, o problema do Gravataí não é de falta de chuva e sim de represamento da água.

Há, ainda, algo tão impactante quanto: a falta de aplicação do plano de gerenciamento da bacia, elaborado ao longo das últimas duas décadas; situação análoga às outras 28 bacias gaúchas, com a diferença de que algumas regiões não tem planos avançados como Gravataí e os Sinos, por exemplo.

Ainda aguarda a caneta do governador Eduardo Leite (PSDB) um Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Banhado Grande, com determinações sobre os usos e atividades, limitações, focos de preservação e ameaças serão concretas e terão peso sobre os planejamentos dos municípios de Gravataí, Viamão, Glorinha e Santo Antônio da Patrulha e as possibilidades de licenciamentos de atividades na região.

Há, inclusive, a projeção de cobrança captação e utilização da água por diferentes atividades econômicas, como já tratei em Custa centavos o ‘milagre’ para salvar o Rio Gravataí; A cobrança da água.

Para se ter uma ideia da importância: a APA do Banhado Grande tem 136,9 mil hectares e ocupa 66% da área da Bacia Hidrográfica do Gravataí.

É a maior APA do RS, guardando, entre quatro municípios, os conjuntos remanescentes de banhados Grande, Chico Lomã e dos Pachecos (onde fica o refúgio de vida silvestre), a Coxilha das Lombas e as nascentes do Rio Gravataí.

A unidade de conservação foi criada em 1998, e desde então, tinha estabelecida como uma necessidade para sua concretização a elaboração do Plano de Manejo.

Concluo como em A ‘guerra pela água’ no rio Gravataí: lacrada arrozeira que capta 5 vezes mais que a Corsan; Saídas há, para além da tentação de proibir. Dê-nos água, governador Leite!: “se Leite quiser, água não vai faltar, caso as microbarragens sejam feitas. Os R$ 5 milhões são troco na relação com os impactos econômicos e sociais da falta de água anual”.

Mas faço um adendo fundamental: associo-me ao prefeito no reconhecimento de que a Corsan está cumprindo o que prometeu a ele, mesmo que apenas quando faltou água para bater no pescoço.

Aí, além de um “obrigado Corsan”, pelo qual posso apanhar no Grande Tribunal das Redes Sociais, obrigo-me a alterar a manchete-cobrança ao governador para “Leite, dê-nos água não só para esse verão!”.

#Microbarragensjá


Assista em SEGUINTE TV imagens da limpeza do canal do DNOS

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