No último temporal o secretário da Saúde Régis Fonseca despertou com um trovão entrecortando as poucas horas que tem dormido em meio ao pior momento da pandemia.
– Acordei de sobressalto e, juro, pensei: só falta cair um avião, um meteoro.
Dois Airbus já caíram. Até às 18h desta quarta 490 vidas já foram perdidas e março vai fechar com pelo menos metade das mortes de 1 ano de pandemia.
Mas o colapso na saúde que Gravataí experimenta desde a véspera do feriadão de Carnaval começou a ficar menos apocalíptico a partir da diminuição nas internações desde o último fim de semana.
– Seguimos superlotados, mas não deixamos ninguém sem atendimento – diz, apontando a ampliação de 32 leitos em dezembro para 150 hoje, contabilizando UTIs e leitos no Hospital de Campanha, Dom João Becker/Santa Casa, PAM 24h, UPAs da 74 e 020, além do atendimento covid também nas 29 unidades de atenção básica.
– Gravataí segurou o pior momento sozinha. Devemos nos orgulhar da nossa rede de saúde.
O Seguinte: ouviu a boa notícia de Régis Fonseca nesta tarde.
Siga os principais trechos da entrevista, que fala também sobre a propagação da nova variante e a vacinação em Gravataí.
Seguinte: – Na última live domingo informaste a percepção de que as internações estavam diminuindo. Confirmou?
Régis – Sim. O cenário é de alívio nas internações, mas nada que permita um otimismo exagerado, já que a ocupação é de 100%. As ampliações que fizemos começam a dar conta da demanda. Se nas últimas semanas tínhamos 35 pacientes aguardando internação, hoje temos em torno de 10, e girando mais rápido, por altas e, infelizmente, óbitos. Mas ainda não podemos voltar à normalidade de atender pacientes de outras enfermidades, porque estamos usando alas e profissionais para covid. Cirurgias eletivas estão suspensas há 30 dias.
Seguinte: – Gravataí está conseguindo transferir pacientes para hospitais de referência em Porto Alegre ou outros municípios?
Régis – Não. Além dos 18 que a Santa Casa conseguiu, seguimos enfrentando sozinhos a pandemia, regulando as internações com um ciclo completo, entre postos de saúde, UPAs, PAM, HC e Becker.
Seguinte: – Qual a capacidade hoje?
Régis – 150 leitos. O investimento na covid tem sido de R$ 4 milhões cada mês.
Seguinte: – É correto avaliar que a explosão de internações e mortes é efeito do Carnaval e a redução agora é consequência das três semanas em bandeira preta?
Régis – Entendo que sentimos um efeito do verão, mais que do Carnaval, já que alguns dias antes do feriadão já tínhamos leitos ocupados e, assim como outros município, não conseguíamos transferências para Porto Alegre ou outros hospitais. Já as restrições ajudaram a aumentar o distanciamento e, acredito, também a conscientização de que precisamos enfrentar ao vírus juntos. Especialistas também alertam para o tempo do ciclo do vírus. Em Manaus o pior período durou 40 dias. Podemos sair dessa tragédia.
Seguinte: – A nova variante da COVID assola Gravataí?
Régis – Provavelmente. Não há fronteiras na Grande Porto Alegre e a Prefeitura da Capital já emitiu nota alertando para a disseminação da nova variante.
Seguinte: – Como está a vacina, a salvação das vidas e da economia?
Régis – Sem dúvida a vacina é a salvação. Temos os melhores índices entre as maiores cidades da região metropolitana. Se recebêssemos mais doses poderíamos vacinar mais. Estávamos operando a 30%, nesta semana chegamos a 55%. Poderíamos aplicar até 3 mil vacinas por dia, mas, conforme as doses, ontem imunizamos mil. Nesta quinta vacinaremos idosos com 72 anos e, sexta, com 71. Com a chegada de mais vacinas poderemos abrir postos nos sábados e até fazer drive-thru. Com o número de doses e a demanda atual serviria apenas para bater foto.
Seguinte: – E a vacinação para gripe?
Régis – Será em abril. Estamos nos preparando. Gostaria de agradecer a toda nossa equipe que tem recebido elogios de autoridades em saúde e da população pelo exemplo na vacinação.
Seguinte: – Deixe uma mensagem.
Régis – Não podemos diminuir a atenção. É preciso estar totalmente alerta e, garanto à população, assim estamos. Uma coisa que a pandemia ensinou é que o coronavírus é totalmente imprevisível. No início de janeiro tínhamos 32 leitos com 50% de ocupação e 5 dias depois explodiram internações e mortes. Tem sido dias difíceis, de muitas perdas, mas saibam que, mesmo com momentos de precariedade nas portas de entrada das emergências, ninguém ficou sem atendimento, sem médico, medicamento ou oxigênio em Gravataí.
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