Nadir Rocha (PMDB) foi o ‘embaixador das boas novas’ do grupo político que conquistou a reeleição com Marco Alba (PMDB), em 12 de março.
Como em 2011, onde por 30 dias após o impeachment de Rita Sanco (PT) fez o papel do ‘camerlengo da Sé vacante’ até a eleição indireta de Acimar da Silva (PMDB), em 2017 Nadir mais uma vez ascendeu interinamente da presidência da Câmara ao segundo andar do palacinho da José Loureiro para comandar Gravataí até a posse do novo prefeito.
Escudado pelo ‘gerentão’ Luiz Zaffalon, o ‘homem do cofre’ Davi Severgnini e o ‘advogado do governo’, Jean Torman –– um triunvirato da confiança de Marco Alba (que não precisou entrar na Prefeitura desde a transmissão de cargo em 1º de janeiro) –– o ‘político do povão’ pode fazer o que mais gosta: estar na rua, junto às comunidades.
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Desta vez por três meses, sem crises e com as contas em dia, o vereador há 15 anos herdou um governo com um ritmo de obras de manhã, tarde e noite, que motivou uma brincadeira do próprio Marco no discurso da vitória, na noite da eleição suplementar:
–– O Nadir foi o prefeito que mais inaugurou na história de Gravataí!
Iluminado, no lugar certo e na hora certa, Nadir Flores da Rocha, 59 anos, cuja trajetória política de 30 anos sempre teve como prioridade a saúde, e base o Hospital Conceição, deixará como legado suas fotos no palanque inaugurando a UPA da 74, uma das maiores obras já feitas no setor na história da cidade.
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Com exclusividade para o Seguinte: –– numa entrevista concedida por mais de uma hora em seu gabinete, no fim da tarde de sexta-feira, onde, se tratando de Nadir, de terno, mas sem gravata, sempre parece mais uma conversa informal e descontraída –– o prefeito interino falou de planos ambiciosos para depois da próxima sexta quando, após 97 dias, devolverá o cargo ao prefeito reeleito nas urnas.
Confira trechos.
Seguinte: –– Que balanço fazes dos três meses no governo? Foste um ‘embaixador das boas novas’?
Nadir – Cumpri à risca o que já estava planejado no Plano Plurianual de 2013 a 2017. Mantive o secretariado e fui para rua, com experiência e boa vontade. Fui sim um embaixador do governo, fiz o trabalho político. Saía de manhã e voltava à noite, com cinco a seis agendas por dia, para conversar com as pessoas, explicar os motivos de algumas coisas não ter sido feitas, mostrar o que tínhamos feito e apresentar nossos planos. Ia no posto de saúde, sentava lá e levava informação às pessoas.
Seguinte: –– Qual a diferença entre assumir a Prefeitura em 2011 e em 2017?
Nadir – Em 2011 pegamos uma Prefeitura esculhambada, em 2017 estava tudo organizado. Em 2011 a Prefeitura não tinha crédito, devia para todo mundo. As pessoas batiam na porta cobrando, como se isso aqui fosse um boteco. Lembro que tinha um contrato para asfalto na Morada do Vale II que pedi para continuar e a empresa parou tudo porque estavam devendo quase R$ 1 milhão por outras ruas. Quando chegamos na Prefeitura, eu, que nunca tinha entrado lá, porque sempre tinha sido oposição, mais a Sônia (Oliveira) e o Zaffa (Luiz Zaffalon), precisamos chamar um funcionário para abri-la, tinham deletado tudo dos computadores, não havia nenhuma informação. Começamos um trabalho quase do zero, que depois passou para o Acimar (da Silva) e o Marco. Muitos achavam que o mundo ia cair quando a Rita (Sanco) foi cassada. Mas nunca nos faltou apoio da população, que mostrou que estava cansada e queria mudanças. Já em janeiro deste ano entrei aqui com tudo preparado, com uma Gravataí recuperada e com horizonte, com futuro. Sem política do ódio, sem caça às bruxas, sem compromisso com ideologias. Não governamos à esquerda, ou à direita, mas para as pessoas.
Seguinte: –– Marco Alba lhe ajudou a governar? No discurso da vitória ele brincou que tinhas sido o prefeito que mais inaugurou obras da história de Gravataí.
Nadir – (risos) E olha que fui, né? Falando sério, o Marco nunca veio na Prefeitura, nunca me pediu nada. Na minha escolha como prefeito ele me achava o melhor para aquele momento, mas não se envolveu e deixou o diretório decidir. Agora, mesmo sem o Marco aqui dentro, devo esses meses de realizações a ele. Tudo que fizemos estava planejado. Por isso que digo para todo mundo que será um grande ano. Se os Bordignons tivessem ganho a eleição, seriam uma família de sorte, porque herdariam uma Prefeitura com as finanças em dia, com todas as certidões negativas de débito, projetos aprovados e financiamentos de mais de R$ 100 milhões para infraestrutura.
Seguinte: –– As obras pararam depois da eleição?
Nadir – Não. E nem começaram por causa da eleição. Demos continuidade ao que, pela maior crise da história desse país, estava atrasado de 2015, 2016. A maioria das obras o Marco já tinha começado e concluímos dentro do cronograma. Não fizemos nada que não estivesse no Plano Pluarianual aprovado em 2013. A prioridade número 1 foi saúde, onde além de reformas nos postos, inauguramos a UPA da 74 e, não fossem problemas nas licitações, poderíamos estar inaugurando a UPA das Moradas, que ficou para o fim do ano. Também conseguimos retomar as obras das Emeis (escolas de ensino infantis), que estavam paradas por problemas com as empresas. A recuperação da Usina de Asfalto foi outra coisa boa. Conseguimos, a um custo mais baixo, asfaltar 75 ruas. Recuperamos as estradas do interior, conseguimos fazer praças em uma cidade que estava deprimida, onde as pessoas não tinham um lugar para tomar chimarrão. Nesse tempo de insegurança, na Morada do Vale, onde vivem 40 mil pessoas, instalamos um posto da Guarda Municipal com viatura 24 horas. Tínhamos feito coisas boas, mas muita gente não sabia. Fui de obra em obra, de serviço em serviço, participei ativamente de tudo. Se via algo errado, ou tinha dúvidas, chamava o secretário, sem escândalo, sem esporro e cobrava. Se na rua alguém me perguntava sobre algo, eu buscava informar. A figura do prefeito é importante. As pessoas gostam de conversar com o prefeito.
Seguinte: –– Os gastos com as obras nestes três meses comprometeram o Orçamento até o fim do ano?
Nadir – Tudo que fizemos respeitou um planejamento. Não fugi da receita prevista. O Marco se esforçou para fazer um governo onde não se gastou mais do que era arrecadado. Não seria eu a deixar ele pelado para os próximos oito meses! (risos) O Marco tem um jeito especial de governar e merece crédito por ter mostrado que é uma forma de gestão que funciona. Se não tivesse implantado as mudanças, e gastasse sem controle como faziam, sem pagar ninguém, estaríamos arrebentados como Cachoeirinha.
Seguinte: –– Os dois primeiros anos do governo foram de impopularidade. Foi uma façanha ganhar eleição?
Nadir – Sim, porque arrumamos a casa em meio a maior crise desse país, e ao fim conseguimos mostrar para o eleitor coisas boas que tínhamos feito, o que estávamos fazendo e o que queríamos fazer. Com humildade reaproximamos o nosso time de 2012, com o Francisco Pinho, o Dr. Levi. Na Morada, que é uma cidade, perdemos por 1.695 votos em 12 de março, quando tínhamos perdido por 4 mil em 2 de outubro. Entendo que perdemos o ‘primeiro turno’ porque estávamos divididos. Agora, juntos, fizemos 15 mil votos. Como um grande líder, aguentando o que ninguém nunca aguentou nesse município, o Marco teve força para não recuar das reformas necessárias, mas também para reconhecer erros, agregar e avançar na hora certa.
Seguinte: –– Qual sua expectativa para o segundo governo Marco Alba?
Nadir – O Marco fará uma tremenda administração. As reformas necessárias e desgastantes já foram feitas na folha de pagamento dos servidores, no Ipag, no IPTU… Ele merecia mais quatro anos para concluir o projeto, agora que as coisas estão acontecendo, e de forma planejada, sem comprometer o futuro da Prefeitura. Tenho certeza de que daqui a quatro anos o Marco será lembrado como prefeito que deixou o maior legado para Gravataí.
Seguinte: –– O Nadir estará na cota política do secretariado?
Nadir – Depende. Saúde ou Obras me interessariam, caso o Marco entenda que sou útil no secretariado. Ou então retomo a presidência dia 8 e vou colaborar lá na Câmara. Em 15 anos como vereador, nunca me ofereci para nada. Não sou puxa saco, sou amigo, daqueles que diz a verdade, que não dá tapinha no ombro quando a coisa anda mal. Mas não falamos ainda sobre o futuro. Acho que nesta semana vamos nos encontrar.
Seguinte: –– És candidato a deputado estadual em 2018?
Nadir – Estou no meu quinto mandato consecutivo como vereador e possivelmente não concorro mais à Câmara. Então, é uma possibilidade. Aqui da Prefeitura pude ver como é importante a interlocução com o governo do Estado, com a Assembleia Legislativa, testemunhar como o Marco abriu as portas de Brasília para Gravataí, como é importante ter lá nosso deputado Jones Martins. Vai me perguntar também se quero ser prefeito? (risos)
Seguinte: –– Essa seria a próxima pergunta…
Nadir – Tenho 59 anos, encerro o mandato de vereador com 62 e me sinto pronto. Quero ser prefeito sim. Trabalharei para construir meu nome, porque uma candidatura a prefeito não se empurra goela abaixo. Muito se fala em novos líderes, mas quais estão realmente prontos e tem experiência para comandar a Prefeitura da terceira economia gaúcha? Não faço a política como superstar. Trabalho, e muito, mas tomo minha cervejinha no boteco, semana passada estava cantando no karaokê, sei ouvir as comunidades e, mesmo sendo um sujeito humilde, me considero um líder político. O Marco será meu grande cabo eleitoral! (risos)
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