MOISÉS MENDES

Por que o Datafolha não pergunta sobre as conexões do bolsonarismo com o nazismo?

Bolsonaro em 2011 com bigodinho de Hitler: "Ficaria brabo se tivesse brinquinho"

Bolsonaro teve sua imagem, suas falas e suas atitudes conectadas muitas vezes ao nazismo, antes e durante os quatro anos de governo.

O sujeito recebeu no Brasil e fez fotos ao lado de uma líder de extrema direita identificada com o nazismo, a deputada Beatrix von Storch, dirigente do partido Alternativa para a Alemanha.

Antes, como deputado, Bolsonaro apareceu ao lado de um sósia de Hitler. O governo de Bolsonaro teve ocupantes de altos cargos simpatizantes declarados do nazismo.

Grupos de sustentação do bolsonarismo, incluindo empresários ricos, manifestaram publicamente posições identificadas com o nazismo.

E mesmo assim a Folha nunca saiu a campo a perguntar se o Brasil corria o risco de vir a ser um país nazista.

Mas agora a Folha foi, com o seu Datafolha, atrás de eleitores para indagar se o Brasil pode virar um país comunista. E 52% responderam afirmativamente.

Qual é o sentido da pergunta? Qual é a possibilidade real de o Brasil ter um regime comunista hoje? Zero. Não há nada que justifique a pergunta.

A Folha pode dizer que fez a pesquisa a partir de uma declaração de Lula, na quinta-feira, na abertura do Foro de São Paulo, em Brasília.

Os participantes do encontro que reúne as esquerdas ouviram Lula dizer que ninguém deve temer a perseguição difamatória da extrema direita.

Lula disse:

“Eles nos acusam de comunistas, como se nós ficássemos ofendidos com isso. Nós ficaríamos ofendidos se nos chamasse de nazista, neofascista, de terrorista. Mas de comunista, de socialista, nunca. Isso não nos ofende. Isso nos orgulha muitas vezes. E, muitas vezes, nós sabemos que merecemos isso”.

Foi isso. Lula declarou que não se ofende de ser chamado de comunista, porque não vê na ‘acusação’ nada de pejorativo ou comprometedor, como pensa o fascismo.

E a Folha pega o desabafo do presidente e sai então a perguntar sobre a ameaça comunista. A pergunta foi assim formulada:

O Brasil corre o risco de se tornar um país comunista?

O alto índice dos 52% que disseram que sim mostra como a população embarca nas provocações da Folha. Por ignorância e por incapacidade de discernimento diante do ambiente político e de compreensão da própria pergunta imbecil. E por má fé porque são de direita ou de extrema direita.

Como alguém pode, racionalmente, achar que o Brasil está sob ameaça do comunismo, depois de quatro anos de imposição dos crimes do fascismo, relevados por um sistema de Justiça omisso e covarde e pela própria Folha?

A Folha deveria sair a perguntar sobre a relação do bolsonarismo com o nazismo, a partir de bases concretas, como o racismo explícito, ao invés de tentar assustar a população com o comunismo.

Em 2011, retratado num cartaz com um bigodinho, como se fosse Hitler, o então deputado Bolsonaro disse não se sentir ofendido:

“Ficaria bravo se tivesse brinquinho, batom na boca e eles usassem isso em uma passeata gay”.

E saiu pelos corredores da Câmara mostrando o cartaz.

O interessante é que a pesquisa foi feita em meio ao julgamento e à condenação de Bolsonaro no TSE. O fim de Bolsonaro pode abrir caminho para o comunismo? É essa a insinuação?

A Folha, que só não foi bolsonarista porque Bolsonaro a esnobou e a afastou de suas relações quando esteve no poder, é permanente e descaradamente golpista.

Por isso fomenta de novo a paranoia anticomunista e faz o jogo não só do bolsonarismo, mas da velha direita em busca de um sucessor para Bolsonaro.

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