Em queda na medição pelos últimos dez dias, o Rio Gravataí está em 5 centímetros, abaixo do limite crítico, de 50 centímetros. É para ontem a Corsan praticar as promessas que anunciou ao prefeito Luiz Zaffalon (MDB) na sexta-feira. Ordem de serviço assinada pelo governador Eduardo Leite (PSDB), e publicada no Diário Oficial desta terça, já autoriza as medidas com a decretação de “Estado de Atenção” em todo Rio Grande do Sul, devido à estiagem.
Com a privatização barrada pelo Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça e Tribunal do Trabalho, a estatal segue com a parceria público-privada, a PPP da Corsan, em funcionamento desde 2017, na qual a Aegea (consórcio que neste 2023 venceu o leilão de compra da companhia) opera sob administração da estatal. Detalhei a polêmica em O porquê da pressa para privatizar a Corsan em 2022; A água e o esgoto no tapetão.
Na sexta, um dia depois de Zaffa cobrar ações concretas por parte da Corsan, no esforço de evitar o desabastecimento de 40 mil economias – o que deixaria sem água em torno de 150 mil pessoas na cidade –, o diretor de operações da estatal, Milton Cordeiro, acompanhado de equipe técnica, esteve na Prefeitura apresentando um plano de contingências, com ações provisórias; que dependiam do decreto de Leite, agora já em vigor.
As medidas foram apresentadas com projeção de ser levadas a efeito quando o nível do Rio Gravataí, junto à bomba de captação, no Passo dos Negros, atingir cinco centímetros; a medição desta quarta-feira, conforme Boletim de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.
Conforme nota divulgada após a reunião na Prefeitura, são duas as propostas da Corsan para manter o rio com volume suficiente para abastecimento de 60% da cidade – a partir da região do Parque dos Anjos e arredores.
A primeira delas prevê o desvio de água do Banhado dos Pacheco (Barragem do Incra), em Viamão, por uma extensão de sete quilômetros, com volume estimado de 400 mil litros por segundo – mesma quantidade do ponto de captação no Passo dos Negros.
Como parte dessa estratégia, a Corsan também deverá erguer uma contenção de pedras, de forma provisória, no trecho do rio próximo à Rua Porto Alegre, no Bairro Mato Alto, para assegurar uma boa adução de água.
A Corsan projeta ainda a compra de água de um açude particular, localizada no Barro Vermelho, próximo ao Loteamento Condado Del Rey, a partir de uma canalização que ainda deve ser construída, com um volume de 200 mil litros por segundo.
– Importante ressaltar que essa contenção, que fica próxima ao Caça e Pesca, será provisória, somente enquanto houver a necessidade de represamento, para garantir o bombeamento – disse o diretor de operações, que calculou que as obras precisariam de dois dias para funcionamento.
Com esse conjunto de intervenções, a Corsan estima que conseguirá manter regular o abastecimento de água em Gravataí por 50 dias.
– Embora sejam medidas que atenuem o risco de desabastecimento, a situação segue crítica, e a população precisa entender que não pode haver desperdício nem uso desnecessário de água – disse o prefeito.
Com o objetivo de fazer cumprir o Decreto 20.241/2022, que estabelece as diretrizes municipais para a racionalização e combate ao desperdício de água em Gravataí, a Guarda Municipal tem percorrido a cidade, alertando, principalmente, donos de postos de combustível, de revendas e de lavagens de carro.
– Até que a Corsan apresente e execute obras definitivas, que resolvam de vez o problema de abastecimento na cidade durante o verão, essa é uma tarefa de todos, tratar a água como o bem mais precioso, com uma atitude cidadã de responsabilidade – reitera o prefeito.
Gravataí, Cachoeirinha, Viamão, Glorinha, Alvorada e Santo Antônio da Patrulha dependem da água extraída do Gravataí. É mais de 1 milhão de pessoas.
De acordo com as regras definidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sem/RS), quando a medição fica abaixo de 0,50 metro é determinado estado crítico e a retirada de água fica suspensa para todas as finalidades, exceto para a distribuição ao consumidor.
Quando o nível está acima de 0,80 metro, é definido estado de atenção e a captação de água acontece normalmente, mediante monitoramento permanente. Abaixo dessa marca, começa o estado de alerta, tornando intermitente a possibilidade de captação para irrigação e outras finalidades que não sejam o abastecimento para o consumo humano.
A réguas são calibradas entre elas e o nível do mar. Os boletins de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí são publicados todos os dias no portal da secretaria para que as informações sejam acessíveis tanto parta gestores, quanto para empreendedores e cidadãos.
Ao fim, como observei em Verão do racionamento e falta de água: Prefeituras pressionam Estado por minibarragens para solucionar Rio ’seco’ Gravataí e Chegou o ‘Dia de Todos os Anos’: começa nesta quinta o rodízio de captação de água no Rio Gravataí; O fantasma do racionamento, a falta de água é uma rotina que afoga famílias e a economia de Gravataí.
Não dá para esquecer de lembrar que não saiu da marola a construção de 13 microbarragens, pedida em janeiro pelo prefeito ao governo do Estado, como o Seguinte: reportou em Verão do racionamento e falta de água: Prefeituras pressionam Estado por minibarragens para solucionar Rio ’seco’ Gravataí.
Balsas a Corsan já começou a usar hoje, já que como diz o geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia do Rio Gravataí, “a água não entra sozinha dentro daquela casinha” da foto que ilustra este artigo, da pior seca, no verão 2004-2005.
As demais medidas emergenciais, anunciadas na sexta pela Corsan, deveriam ser ‘pra ontem’.
Mas, o principal: e as barragens, governador, Eduardo Leite?
Isso não tem nada a ver com Corsan pública ou privada. É responsabilidade da Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional), que tem recursos destinados, mas desde 2018 não conclui o estudo de impacto ambiental (EIA/Rima), para o qual a empresa Ecossis Soluções Ambientais venceu o processo licitatório por R$ 400 mil.
O cálculo prévio é de que cada microbarragem custe cerca de R$ 50 mil. Para o impacto na vida das pessoas, e econômico, é troco!
Tragicômico, sinto-me o Bill Murray, em “O Feitiço do Tempo”. É aquele filme dos anos 90 no qual o repórter que faz previsões meteorológicas vai fazer uma matéria especial sobre o celebrado “Dia da Marmota”, mas fica preso no tempo, condenado a vivenciar para sempre os eventos daquele dia.
Nesta pauta da falta de água, estou preso desde 1996, quando comecei a trabalhar em Gravataí, uma das ‘capitais da falta de água’; mesmo com um rio com seu sobrenome.
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