Quinze dias após a Polícia Federal deflagrar a Operação Rêmora, para “investigar desvio de recursos públicos, corrupção ativa e passiva e crimes licitatórios praticados a partir da aquisição de equipamentos para escolas do município de Cachoeirinha/RS”, o prefeito Cristian Wasem (MDB) ainda não foi convocado para depor.
Os policiais federais investigam a aquisição de 321 lousas interativas para escolas do município, ao custo individual de R$ 32 mil, chegando aos R$ 10 milhões, realizadas pela Prefeitura de Cachoeirinha no segundo semestre de 2022.
A operação, em parceria com a Polícia Civil, cumpriu nove mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), na Prefeitura de Cachoeirinha, na casa do prefeito e também em Porto Alegre, Lajeado, Guaporé, Estrela e Alvorada, onde teria sido presos dois agentes públicos.
Cerca de R$ 23 milhões em bens e valores foram bloqueados em contas de supostos envolvidos na investigação.
A Polícia Civil também participou da operação por já investigar em outros municípios contratos de instalação de rede de fibra ótica e videomonitoramento pela Smart Tecnologia em Comunicações, cujo proprietário Ricardo Giovanella Neto, também alvo de buscas na empresa e em sua residência, por ter presidido o MDB de Lajeado, é usado na narrativa política de que há um esquema envolvendo prefeituras administradas pelo partidos, já que, além de Cachoeirinha, Alvorada e Porto Alegre são investigadas, e outros como Gravataí também compraram lousas; leia em Como governo Zaffa se livrou do ‘contágio’ das compras de lousas digitais investigadas pela Polícia Federal.
Conforme a PF, a investigação teve início em novembro de 2023, a partir de notícias publicadas pela imprensa e apontamentos em relatórios de auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
A empresa investigada foi contratada por prefeituras gaúchas por meio de adesões a atas de registro de preço do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Rio Taquari (Consisa VTR).
Pela modalidade, uma prefeitura pode aproveitar a licitação feita por outra para fazer as compras.
A auditoria do TCE citada pela PF como origem da operação em Cachoeirinha também apura compra de lousas pela Prefeitura da Capital.
Os investigadores tem memorando de 2022 no qual a Superintendência de Compras e Licitações da Prefeitura de Cachoeirinha contesta a compra das lousas.
O documento, protocolado no gabinete do prefeito Cristian Wasem (MDB), recomendava a abertura de licitação própria, “com ampla divulgação e concorrência”. Também foi feito alerta para o suposto superfaturamento no preço das lousas.
Cristian respondeu, também por ofício, que a legalidade da contratação era garantida pela Diretoria de Tecnologia da Informação do município e por parecer de um escritório de advocacia privada.
O TCE chegou a suspender a compra, mas reviu a decisão. O conselheiro relator Renato Azevedo revogou dia 18 de janeiro de 2023 a medida cautelar que suspendia o contrato assinado em 2022.
O nome da operação da Polícia Federal em Cachoeirinha faz referência a adesões a Atas de Registros Públicos, que é conhecido como “efeito carona”. Rêmora é o peixe que se acopla em outros animais marinhos, geralmente tubarões, alimentando-se de seus restos de alimentos e pegando carona no animal que se acoplou.
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Pelo que apurei, surpreendeu investigadores a colaboração do prefeito durante a busca e apreensão. Convidou-os inclusive a vasculhar seu escritório de advocacia. Como não constava nas ordens judiciais, os policiais federais não aceitaram. Cristian também ofereceu as senhas para abrir seu telefone particular e notebook.
Ao fim, a explicação do governo Cristian para as compras foi dada ao Seguinte: em Por que prefeito Cristian priorizou compra de 10 milhões em governo interino de Cachoeirinha, hoje sob investigação da Polícia Federal. Nada diferente deve dizer o prefeito caso convocado pela PF para depor.
Concluo como iniciei o artigo A live desastrosa: Prefeito Cristian falar em fake news sobre operação da PF na Prefeitura de Cachoeirinha – e em sua casa – é cortina de fumaça para um erro político primordial:
“Quem me lê sabe que não sou daqueles que permitem aos políticos apenas a presunção de culpa. Parto neste artigo do pressuposto de que o prefeito Cristian Wasem (MDB) é um homem inocente.
Resta à Polícia Federal provar irregularidades contratuais, superfaturamento ou propina.
Ah, e o resto é fofoca de internet.
Assista na SEGUINTE TV vídeo da PF na casa do prefeito