No #DasUrnas, siga diariamente quem ganhou, quem perdeu, quem empatou e os números e análises da eleição de 2024.
Dois vices derrotados em 6 de outubro são vítimas de si mesmos. Tomaram decisões que os obrigam a recomeçar. Pegaram o ‘Norte via Sul’ da política, para lembrar daquele inacreditável ônibus da Sogil do passado. E chegou o fim da linha.
Explico.
Em Gravataí, o vereador Thiago de Leon (PDT) trocou uma reeleição certa ao segundo mandato para ser candidato a vice do ex-prefeito Marco Alba (MDB), segundo colocado na eleição.
Em Cachoeirinha, o ex-vereador Dr. Rubinho (PSDB) trocou uma eleição certa para a Câmara para ser vice de David Almansa (PT), também segundo colocado.
A ‘ideologia dos números’, e a ‘ideologia-ideologia’, em suas duas chapas ‘MarxDonalds’, os condenam à reconstrução.
De Leon, com raízes no PSOL, fez aliança com Marco, político de centro-direita. Não por nada, durante a campanha o partido mais os criticou do que ao prefeito reeleito Luiz Zaffalon (PSDB). Apelidei a estratégia de ‘PSOL de Rua Coberta’.
Pesquisas internas também mostraram que De Leon não conseguiu atrair votos da centro-esquerda numa eleição que se polarizou entre notórios direitistas – o que já analisei em #DasUrnas | Marco Alba foi ‘vítima’ do que construiu – e bem. Ou: Pelé errou o pênalti.
Já Dr. Rubinho, na eleição suplementar de 2022 para Prefeitura, então no União Brasil, apresentou-se como “candidato do Bolsonaro”. Chegou a ir a Pelotas roubar um selfie com o ex-presidente. Na eleição de 2024 fez aliança com Almansa, do PT de Lula, concorrendo pelo PSDB do governador Eduardo Leite.
A ‘ideologia dos números’ até permitiria os tratar como grandes perdedores da eleição, fosse política matemática simples. Não é.
Vamos aos números.
Marco Alba foi o segundo colocado nesta eleição com 42.882 votos. Menos do que recebeu em 2022, em Gravataí, quando concorreu a deputado federal: 45.882, dos 68.245 votos recebidos no Rio Grande do Sul. Naquela eleição, concorrendo a deputado estadual, De Leon recebeu em Gravataí 12.365 de seus 16.733 votos.
Almansa também fez em 2024 menos votos do que no pleito suplementar de 2022.
A chapa com Dr. Rubinho recebeu 18.550 (28,14%). Na eleição plebiscitária de 2024, o prefeito Cristian Wasem (MDB) foi reeleito com 47.364 votos (71,86%). Antes, na eleição suplementar de 2022, Almansa, segundo, e Rubinho, terceiro, somaram 36.860: 19.430 votos (25,62%) e 17.430 votos (22,98%), respectivamente. Cristian fez 51,4% dos votos válidos, 38.987.
Se Dr. Rubinho se filiou ao PSDB às vésperas do ano eleitoral, e o máximo que conseguiu foi um tímido vídeo de apoio do governador a um dia da votação, De Leon construiu carreira no PDT – que destruiu nesta eleição.
O partido saiu das eleições municipais de 2020 como o segundo mais votado em Gravataí: 12.059 (10,46%), atrás apenas do MDB, do então ‘Grande Eleitor’ Marco Alba e do prefeito eleito, Zaffa, 27.125 (23.53%).
Tinha um ex-prefeito, Daniel Bordignon, uma candidata que apesar de naquela eleição ter feito 13.181 votos (11.69%) já tinha chegado aos 40 mil em eleições anteriores, Anabel Lorenzi, e três vereadores eleitos em 2020: Bino Lunardi, Dilamar Soares e ele, De Leon.
Já na eleição de 2024, o PDT foi o décimo em votos, 3.733 (3%). Ninguém foi eleito para a Câmara de Vereadores – nem a tia de De Leon, Carol, que se apresentou com o mesmo sobrenome e número de urna com o qual ele foi eleito em 2020. Recebeu 793 votos.
De lideranças reconhecidas, só sobrou ele, De Leon – e agora sem mandato.
Reputo inegável que De Leon e Dr. Rubinho precisam se reconstruir.
O primeiro tem uma vantagem sobre o segundo, que é ‘evangélico novo’ no PSDB: é que De Leon teve sempre a cumplicidade da direção estadual e nacional pedetista, que condescendeu com o afastamento de vereadores que votaram com o governo Zaffa, como na Reforma da Previdência, e ocuparam cargos, quando a articulação política era feita pelo grupo de Marco, de quem, após consumada a razia, tornou-se vice.
E De Leon é mais jovem. Tem 29 anos. Deve concorrer a deputado novamente em 2026. Mas aí, sem sua questionável bandeira de doar metade do salário de vereador para escolas e fazer política com isso – e sozinho, já que o PDT de Gravataí não mais existe.
Ninguém que conhece minimamente a política da aldeia acredita que o grupo ligado a Marco Alba – e da deputada estadual Patrícia Alba – o apóie.
De Leon, o ‘esquerdista’, foi um culpado perfeito na análise de alguns direitistas, que ainda apóiam os Alba, ou que já iriam trai-los e, após a escolha do vice, ganharam a desculpa perfeita durante a campanha.
Dr. Rubinho experimenta o mesmo: foi um queridão na campanha, mas o PT não quer saber mais dele.
Ao fim, a coisa só é menos feia para De Leon porque o vereador até 31 de dezembro ainda vive a juventude, a surpresa da vida. Se souber entender as urnas, o futuro pode ser logo ali. Agora, se, como aquela criança, olhar para o rei e disser “o povo está nu!”, aí não sei.
(Esta análise muda – mas não completamente – caso o tapetão decida pela anulação da eleição em Gravataí, possibilidade que já expliquei em Justiça de Gravataí confirma mais uma vez eleição de Zaffa. Acabou? Não. Ainda tem recurso do MP para TRE julgar).
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