O ‘caminho da extinção’ parou em abril, depois de março, o pior mês da COVID-19, encerrar com o assustador número de 4 a cada 10 vidas perdidas em um ano de pandemia em Gravataí, além de mais óbitos do que nascimentos. Cachoeirinha também registrou redução nas mortes, por diferentes causas, pesquisadas pelo Seguinte: no Portal da Transparência do Registro Civil do Brasil. Porém, apocalíptica é a projeção do ‘Nostradamus da pandemia’.
Antes da profecia da tragédia, vamos à ‘ideologia dos números’, que mostra um ‘platô de estabilidade’, mas ainda nas alturas do Morro Itacolomi e do Edifício Madri.
Em Gravataí, em 13 meses, caíram dois Boeings, com 675 vidas perdidas. Os infectados foram 2.286 em 30 dias, e chegam aos 20.619, ou 7,6% dos 271 mil habitantes. Em Cachoeirinha caiu um Boeing. São 351 mortes e 12.203 infectados, ou 9,3% dos 131 mil habitantes.
A boa notícia é que as curvas de natalidade e mortalidade voltaram a se aproximar da ‘normalidade’, se é possível tratar assim uma redução de 6,5 mortes diárias em março (196) para 4,8 em abril (146), usando o exemplo de Gravataí. Inegavelmente um índice ainda altíssimo se comparado com a média de 1 a cada 24h em dezembro, quando estávamos na mesma bandeira vermelha no Distanciamento Controlado.
Fato é que se em março Gravataí esteve entre as cidades brasileiras que, de forma inédita, registraram mais óbitos do que nascimentos, e Cachoeirinha chegou perto do recorde negativo, os indicadores melhoraram.
Gravataí registrou 289 nascimentos e 356 mortes em março de 2021. Para efeitos de comparação, no mesmo mês do ano passado foram registrados 194 nascimentos e 108 óbitos. A virulência da COVID em março de 2021 é evidenciada também na comparação com janeiro – 217 nascimentos e 159 óbitos – e fevereiro, com 227 nascimentos e 150 óbitos.
Em Cachoeirinha, março teve 173 nascimentos e 166 óbitos. No mesmo mês do ano passado foram 128 nascimentos e 44 óbitos. Em 2021, janeiro teve 159 nascimentos e 67 óbitos e fevereiro 137 nascimentos e 63 óbitos.
Já em abril, Gravataí voltou a ter mais nascimentos (249) que mortes (178). Em 2020 tinha sido 279 a 108. Em Cachoeirinha, abril teve 143 nascimentos e 88 óbitos. Ano passado foi 198 a 57.
Para se ter uma ideia, mesmo que a diferença entre nascimentos e óbitos já viesse caindo gradualmente no Brasil, o excesso de mortes durante a pandemia acelerou o encontro destas duas curvas em março, algo que o IBGE projetava que deveria acontecer apenas daqui a mais de duas décadas, em 2047.
Detalhei números e trouxe reportagens nacionais e a palavra de especialistas em A virulência da COVID em Gravataí: O mês que teve mais mortes que nascimentos.
Apavora-me alerta de Miguel Nicolelis, de que podemos vivenciar ainda neste semestre uma terceira onda da COVID-19. É o cientista que alertou para a gravidade da crise do coronavírus em 2020 e, ainda em dezembro, antecipou que a segunda onda tiraria a vida de mais de 3 mil brasileiros por dia – o que aconteceu, e por isso o apelidei de ‘Nostradamus da pandemia’.
A profecia daqueles que é uma referência mundial em neurociência é de que a combinação explosiva entre vacinação lenta, exposição a novas cepas do vírus, relaxamento do isolamento social e a chegada do inverno farão o Brasil acumular mais de um milhão de fatalidades até 2022.
– O Brasil está se especializando no método sanfona de controle da pandemia. Fecham quando está altíssimo por uma, talvez duas semanas, e aí, quando cai 4 pontos, abrem tudo de novo e volta a subir – disse à BBC Brasil.
Sem um lockdown nacional – o que não vai acontecer como, para usar exemplos próximos, mostram as ações dos governos Eduardo Leite, Sebastião Melo, Luiz Zaffalon e Miki Breier – Nicolelis projeta a marca de 500 mil vítimas fatais, a ser atingida em 40 dias.
– No ritmo atual, nós não vamos nem conseguir vacinar as pessoas antes que alguma variante brasileira, ou da África do Sul, ou da Índia, ou da Inglaterra, escape às vacinas. Essa variante indiana é assustadora. Se as variantes entrarem aqui e passarem a competir com a variante brasileira P-1, e as vacinas que temos não derem conta, podemos ter um milhão de óbitos até 2022 – advertiu, na entrevista.
Ao fim, aguardemos, já que outro possível – ou provável – fator de pressão no contágio está em curso, que é a volta às aulas em todas as séries.
Resta recomendar que, em todas as atividades, respeitemos os cuidados sanitários. O atual Distanciamento Controlado do RS, que critiquei em artigos como Como um meme, Leite pintou o mapinha: Gravataí e Cachoeirinha em bandeira vermelha; 50 tons de alguma cor para volta às aulas e O jeitinho de Leite: Gravataí e Cachoeirinha vão para bandeira vermelha; O Ministério da Verdade decreta a Mentira deve dar lugar a outro modelo nos próximos dias.
Antecipo, para além de que terá nome bonito e bem pesquisado para ‘tranquilizar’ os gaúchos: na prática, representará não mais que a troca da ciência pela política, já que o sistema de bandeiras será trocado por alertas de cor e cada governo estará autorizado a fazer o que quiser em sua cidade, respeitando ou não suas autoridades sanitárias.
A ‘matemática sanitária’ está muito complicada. Nada que um decreto do ‘Ministério da Verdade’, que transforma preto e em vermelho, não resolva.
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