crise do coronavírus

Caíram aviões em Gravataí: 500 vidas perdidas até fim da semana; São 2 Airbus, duas boates Kiss

Brasil já tem mais de 303 mil vidas perdidas para COVID | Foto FOTOS PÚBLICAS

Gravataí deve fechar a semana ultrapassando as 500 vidas perdidas para a COVID-19 em um ano de pandemia. Neste momento são 496 mortes registradas, mas, pela média da semana, a trágica e simbólica marca pode ser atingida antes da meia noite desta sexta.

É como se dois Airbus tivessem caído; ou duas boates Kiss incendiado.

Como antecipei em Morrer de COVID, não de fome: comércio reabrirá no pior mês da pandemia; Março terá metade das mortes de 1 ano, serão 30 dias com recorde de óbitos.

Ainda assim, Gravataí não está proporcionalmente à população entre as médias mais altas nos maiores municípios da região. O percentual é de 173 por 100 mil habitantes. Canoas registra 262.5, Porto Alegre 226.2, Alvorada 214.5, Cachoeirinha 206.5 e Viamão 185.2.

A boa notícia é que o número de internações está diminuindo. Se no último fim de semana em média 35 pacientes aguardavam por leitos e UTIs em ambulâncias, macas, cadeiras ou deitados no chão, hoje são 10. Ainda assim, há lotação.

Reportei em Internações caem em Gravataí: ’Mesmo no colapso, ninguém ficou sem atendimento’; Secretário fala sobre leitos, bandeira preta, variante e vacinas e Sem risco de morte: Santa Casa não permite nebulização por cloroquina em Gravataí; Chefe do Becker confirma redução de internações, em entrevistas com o secretário da Saúde Régis Fonseca e o superintendente da Santa Casa em Gravataí Antônio Weston.

Ao fim, arrasado como acredito estamos todos que temos amor pela vida, reproduzo trecho de “O Amor nos Tempos do Colera”, de Gabriel Garcia Marquez, enviado pelo Roberto Gomes de Gomes, jornalista diretor do Seguinte:, como um alento neste momento em que as mortes tem rostos conhecidos e as redes sociais se tornaram um triste obituário diário.

 

“…

– Capitão, o menino está preocupado e muito inquieto devido à quarentena que o porto nos impôs!

– O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente? Não dormes o suficiente?

– Não é isso, Capitão. É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.

– E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de infectar alguém que não tem condições de aguentar a doença?

– Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.

– Pode ser, mas e se não foi inventada?

– Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me privaram de algo.

– E tu te privas ainda mais de algo.

– Está de brincadeira, comigo?

– De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.

– Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu devo privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?

– Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.

– E o que foi que tiveste de te privar?

– Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente. Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo. Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.

O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres. Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento. Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.

O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte. Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.

Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.

– Como acabou, Capitão?

– Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.

– Privaram vocês da primavera, então?

– Sim, naquele ano me privaram da primavera e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.

…”

 

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